O Grande Ateop nasceu do choque de uma constelação fantástica de treze estrelas lá nos limites insondáveis do universo. O Grande Ateop não teve pai nem mãe e nenhum deus ou deusa para gerar sua vida. Sua idade é de bilhões de anos e seus escritos estão em todos os murais das civilizações humanas universais.
sexta-feira, 30 de maio de 2014
Ausência - Euclides Bandeira
Recresce, arpoante e funda, a saudade cruel.
Corri ela foi meu sol, partiu minha risada!
Cada dia que passa é uma gota de fel
que se me infiltra na alma e a põe envenenada.
Mais larga a ausência, mais a lembrança dourada
resplandece, espertando emoções em tropel:
o riso, o gesto, a voz; boca a boca soldada,
os seus beijos febris que eram de fogo e mel...
Claro perfil de luz, louro encanto irradiando
o revérbero astral de flavescente véu
que dourava o meu sonho e o verso decadente.
Onde estás? interrogo. E a mágoa cresce quando
sinto tudo em silêncio em torno... O próprio céu
misterioso e azul, como os olhos da Ausente...
Corri ela foi meu sol, partiu minha risada!
Cada dia que passa é uma gota de fel
que se me infiltra na alma e a põe envenenada.
Mais larga a ausência, mais a lembrança dourada
resplandece, espertando emoções em tropel:
o riso, o gesto, a voz; boca a boca soldada,
os seus beijos febris que eram de fogo e mel...
Claro perfil de luz, louro encanto irradiando
o revérbero astral de flavescente véu
que dourava o meu sonho e o verso decadente.
Onde estás? interrogo. E a mágoa cresce quando
sinto tudo em silêncio em torno... O próprio céu
misterioso e azul, como os olhos da Ausente...
Minuete - Augusto Meyer
O minuete das flores vai começar.
Há uma rosa vermelha que balouça, balouça,
em reverência a um lírio.
Tocam os grilos escondidinhos para a quadrilha.
Há um crisântemo crespo muito orgulhoso,
e sua corola parece que gira.
Ele dança imóvel — consigo mesmo...
As folhas secas também valsam,
— realejo ao vento —
valsam remoinhos silenciosos,
— folhas ingênuas — baile de pobres...
Dançam as flores, dançam perfumes na minha alma.
0 minuete das mágoas vai começar.
Minha alma não dança com as outras almas:
— dança imóvel — consigo mesma...
Há uma rosa vermelha que balouça, balouça,
em reverência a um lírio.
Tocam os grilos escondidinhos para a quadrilha.
Há um crisântemo crespo muito orgulhoso,
e sua corola parece que gira.
Ele dança imóvel — consigo mesmo...
As folhas secas também valsam,
— realejo ao vento —
valsam remoinhos silenciosos,
— folhas ingênuas — baile de pobres...
Dançam as flores, dançam perfumes na minha alma.
0 minuete das mágoas vai começar.
Minha alma não dança com as outras almas:
— dança imóvel — consigo mesma...
Não creio nesse deus - António Aleixo
I
Não sei se és parvo se és inteligente
— Ao disfrutares vida de nababo
Louvando um Deus, do qual te dizes crente,
Que te livre das garras do diabo
E te faça feliz eternamente.
II
Não vês que o teu bem-estar faz d'outra gente
A dor, o sofrimento, a fome e a guerra?
E tu não queres p'ra ti o céu e a terra..
— Não te achas egoísta ou exigente?
III
Não creio nesse Deus que, na igreja,
Escuta, dos beatos, confissões;
Não posso crer num Deus que se maneja,
Em troca de promessas e orações,
P'ra o homem conseguir o que deseja.
IV
Se Deus quer que vivamos irmãmente,
Quem cumpre esse dever por que receia
As iras do divino padre eterno?...
P'ra esses é o céu; porque o inferno
É p'ra quem vive a vida à custa alheia!
Não sei se és parvo se és inteligente
— Ao disfrutares vida de nababo
Louvando um Deus, do qual te dizes crente,
Que te livre das garras do diabo
E te faça feliz eternamente.
II
Não vês que o teu bem-estar faz d'outra gente
A dor, o sofrimento, a fome e a guerra?
E tu não queres p'ra ti o céu e a terra..
— Não te achas egoísta ou exigente?
III
Não creio nesse Deus que, na igreja,
Escuta, dos beatos, confissões;
Não posso crer num Deus que se maneja,
Em troca de promessas e orações,
P'ra o homem conseguir o que deseja.
IV
Se Deus quer que vivamos irmãmente,
Quem cumpre esse dever por que receia
As iras do divino padre eterno?...
P'ra esses é o céu; porque o inferno
É p'ra quem vive a vida à custa alheia!
De um fauno - Emiliano Perneta
Ah! quem me dera, quando passa em meu caminho
Juno! com seu andar de névoa que flutua,
Poder despi-la dessa túnica de linho...
E vê-la nua! Eu só compreendo estátua nua!
Nua! essa corça nua é branca, e é como a Lua...
Ser eu Apolo! embriagá-la do meu vinho!
Porém se estendo no ar os meus braços, recua,
Esquiva a dama apressa o passo miudinho...
A dama foge, não deseja que eu avance...
Meu desejo, porém, é um gamo. De relance,
Vendo-a, corre a querer sugar-lhe o claro mel...
Despe-a; carrega-a, assim, despida, para o leito...
E, nua, em flor, bem como um sátiro perfeito,
Sobre o feno viola essa Virgem cruel!
Juno! com seu andar de névoa que flutua,
Poder despi-la dessa túnica de linho...
E vê-la nua! Eu só compreendo estátua nua!
Nua! essa corça nua é branca, e é como a Lua...
Ser eu Apolo! embriagá-la do meu vinho!
Porém se estendo no ar os meus braços, recua,
Esquiva a dama apressa o passo miudinho...
A dama foge, não deseja que eu avance...
Meu desejo, porém, é um gamo. De relance,
Vendo-a, corre a querer sugar-lhe o claro mel...
Despe-a; carrega-a, assim, despida, para o leito...
E, nua, em flor, bem como um sátiro perfeito,
Sobre o feno viola essa Virgem cruel!
quinta-feira, 29 de maio de 2014
O discurso - Gilberto Mendonça Teles
Havia a necessidade absurda de falar
para manter o equilíbrio da mesa
e preservar a reputação implícita
nos gestos.
Alguém chegou a reclamar a urgência
de um gravador para medir as vaias.
Outro, mais complacente, se preparava
para pedir bis. Um terceiro mastigou
ruidosamente a ponta da língua.
Neste momento solene... o poeta
burlou a vigilância das moscas
e deu um salto mortal no meio
do discurso.
E ante a curiosidade geral dos convivas,
fabricou um cavalo de miolo de pão
e fugiu a galope, levando à garupa
a garota que estava fingindo que não.
para manter o equilíbrio da mesa
e preservar a reputação implícita
nos gestos.
Alguém chegou a reclamar a urgência
de um gravador para medir as vaias.
Outro, mais complacente, se preparava
para pedir bis. Um terceiro mastigou
ruidosamente a ponta da língua.
Neste momento solene... o poeta
burlou a vigilância das moscas
e deu um salto mortal no meio
do discurso.
E ante a curiosidade geral dos convivas,
fabricou um cavalo de miolo de pão
e fugiu a galope, levando à garupa
a garota que estava fingindo que não.
Na véspera - Jorge Wanderley
Porque o cansaço tem ruas de sono
Conseguirás agora adormecer.
Tudo anda mal nas coisas que abandonas;
Em solo ingrato a noite vai descer.
Que traga a paz imensa que ambicionas,
Sem sonho algum; para não conceber
Meias-vidas sem rumo onde és o dono
Do que não queres, de insano poder.
Que a lida agora interrompida, amarga,
Possa passar a um outro espaço-tempo,
E volte nova dos frios astrais.
Que esqueça longo o peso, a dor, a carga,
O mal que te contempla e que contemplas.
Se assim não, que não acordes mais.
Conseguirás agora adormecer.
Tudo anda mal nas coisas que abandonas;
Em solo ingrato a noite vai descer.
Que traga a paz imensa que ambicionas,
Sem sonho algum; para não conceber
Meias-vidas sem rumo onde és o dono
Do que não queres, de insano poder.
Que a lida agora interrompida, amarga,
Possa passar a um outro espaço-tempo,
E volte nova dos frios astrais.
Que esqueça longo o peso, a dor, a carga,
O mal que te contempla e que contemplas.
Se assim não, que não acordes mais.
A gaiola - Maria do Carmo Barreto Campello de Melo
E era a gaiola e era
a vida era a gaiola
e era o muro a cerca
e o preconceito
e era o filho a
família e a aliança
e era a grade a fila
e era o conceito
e era o relógio o
horário o apontamento
e era o estatuto a
lei e o mandamento
e a tabuleta dizendo
é proibido.
E era a vida era o
mundo e era a gaiola
e era a casa o nome a
vestimenta
e era o imposto o
aluguel a ferramenta
e era o orgulho e o
coração fechado
e o sentimento
trancado a cadeado.
E era o amor e o
desamor e o medo de magoar
e eram os laços e o
sinal de não passar.
E era a vida era a
vida o mundo e a gaiola
e era a vida e a vida
era a gaiola.
A chuva e o poeta - Luciene Freitas
Nuvens choram,
manhosamente, na tarde fria,
Singular cortina, de
sombras, forma a neblina.
Insistentes gotas,
ritmadas, escorrem em nostalgia
Formando espelhos
d’água em poças cristalinas.
E na magia da queda
de cada gota, que reluz,
O ventre da terra
intumesce. A natureza arde.
O poeta é mariposa
desvairada, volteando a luz.
Recita versos,
enternecidos, colorindo a tarde.
Um piano em leves
acordes compassados
Ressoa longe, o
mavioso som de uma valsa.
Em melodia festiva os
pingos cadenciados
Arrastam a tristeza.
Só a chuva é que não passa!
O poeta diz – Não há
trevas! Há luz na poesia.
Em versos de louvor
canta a Natureza em festa,
Sob a cinzenta luz de
artifício. Sem melancolia
Louva as estrelas,
escondidas, atrás das arestas.
Serpenteando a terra
corre a água em fino fio,
Em ondas reluzentes,
enquanto interage o vento.
Os sapos, em
estribilho, festejam a chegada do frio,
Enquanto o poeta faz
versos de encantamento.
As folhas orvalhadas
têm o brilho de estrelas
Realçam o verde,
limpo, lavado pelos pingos.
Numa oração, em coro,
os poetas bendizem vê-las
E desfiam,
embevecidos, em rimas o cantar divino.
terça-feira, 27 de maio de 2014
Soneto - Junqueira Freire
Arda de raiva
contra mim a intriga,
Morra de dor a inveja insaciável;
Destile seu veneno detestável
A vil calúnia, pérfida inimiga.
Una-se todo, em traiçoeira liga,
Contra mim só, o mundo miserável.
Alimente por mim ódio entranhável
O coração da terra que me abriga.
Sei rir-me da vaidade dos humanos;
Sei desprezar um nome não preciso;
Sei insultar uns cálculos insanos.
Durmo feliz sobre o suave riso
De uns lábios de mulher gentis, ufanos;
E o mais que os homens são, desprezo e piso.
Morra de dor a inveja insaciável;
Destile seu veneno detestável
A vil calúnia, pérfida inimiga.
Una-se todo, em traiçoeira liga,
Contra mim só, o mundo miserável.
Alimente por mim ódio entranhável
O coração da terra que me abriga.
Sei rir-me da vaidade dos humanos;
Sei desprezar um nome não preciso;
Sei insultar uns cálculos insanos.
Durmo feliz sobre o suave riso
De uns lábios de mulher gentis, ufanos;
E o mais que os homens são, desprezo e piso.
Banzo - Menotti Del Picchia
E por que
deixou na areia do Congo
a aldeia de palmas;
e porque seus ídolos negros
não fazem mais feitiços;
e porque o homem branco o enganou com missangas
e atulhou o porão do navio negreiro
com seu desespero covarde;
e porque não vê mais de ânfora ao ombro
a imagem do conga nas águas do Kuango,
ele fica na porta da senzala
de mão no queixo e cachimbo na boca,
varado de angústia,
olhando o horizonte,
calado, dormente,
pensando,
sofrendo,
chorando.
morrendo.
a aldeia de palmas;
e porque seus ídolos negros
não fazem mais feitiços;
e porque o homem branco o enganou com missangas
e atulhou o porão do navio negreiro
com seu desespero covarde;
e porque não vê mais de ânfora ao ombro
a imagem do conga nas águas do Kuango,
ele fica na porta da senzala
de mão no queixo e cachimbo na boca,
varado de angústia,
olhando o horizonte,
calado, dormente,
pensando,
sofrendo,
chorando.
morrendo.
O beija-flor - Tobias Barreto
Era uma moça franzina,
Bela visão matutina
Daquelas que é raro ver,
Corpo esbelto, colo erguido,
Molhando o branco vestido
No orvalho do amanhecer.
Vede-a lá: tímida, esquiva...
Que boca! é a flor mais viva,
Que agora está no jardim;
Mordendo a polpa dos lábios
Como quem suga o ressábio
Dos beijos de um querubim!
Nem viu que as auras gemeram,
E os ramos estremeceram
Quando um pouco ali se ergueu...
Nos alvos dentes, viçosa,
Parte o talo de uma rosa,
Que docemente colheu.
E a fresca rosa orvalhada,
Que contrasta descorada,
Do seu rosto a nívea tez,
Beijando as mãozinhas suas,
Parece que diz: nós duas!...
E a brisa emenda: nós três! ...
Vai nesse andar descuidoso,
Quando um beija-flor teimoso
Brincar entre os galhos vem,
Sente o aroma da donzela,
Peneira na face dela,
E quer-lhe os lábios também
Treme a virgem de surpresa,
Leva do braço em defesa,
Vai com o braço a flor da mão;
Nas asas d’ave mimosa
Quebra-se a flor melindrosa,
Que rola esparsa no chão.
Não sei o que a virgem fala,
Que abre o peito e mais trescala
Do trescalar de uma flor:
Voa em cima o passarinho...
Vai já tocando o biquinho
Nos beiços de rubra cor.
A moça, que se envergonha
De correr, meio risonha
Procura se desviar;
Neste empenho os seios ambos
Deixa ver; inconhos jambos
De algum celeste pomar! ...
Forte luta, luta incrível
Por um beijo! É impossível
Dizer tudo o que se deu.
Tanta coisa, que se esquece
Na vida! Mas me parece
Que o passarinho venceu! ...
Conheço a moça franzina
Que a fronte cândida inclina
Ao sopro de casto amor:
Seu rosto fica mais lindo,
Quando ela conta sorrindo
A história do beija-flor.
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Contradições - Dayse Melo
Enquanto aguardo a sua chegada,
busco o relógio e adianto as horas
na esperança da sua falta.
Enquanto anseio pelo seu beijo,
Trinco os dentes, mordo a língua,
E engulo a saliva e o sangue.
Enquanto meus pelos se arrepiam ao seu
toque,
me visto de aço e ferro,
e encarcero todo o meu corpo.
Enquanto meu olhar de fogo se rebela e te
acolhe,
meus lábios se trancam,
se calam e te negam.
Me contradigo...
Então... Meus versos surgem de desejos
confusos, dispersos...
e minha alma vagueia entre metáforas livres
e incertas...
por ora eu peso a razão e o não-senso.
Mas perco a conta e começo tudo de novo.
Deusa vencida - Lilian Maial
Por teu amor renunciei a tudo,
desfiz-me em rimas de sonetos vãos.
Indivisível como o teu escudo,
só mesmo a brisa que me fez canção.
Teci mortalhas para um peito mudo,
que em noites frias de sofreguidão
eu desmanchava, rejeitando o luto,
como o ataúde de meu coração,
Em frente ao mar eu aguardei serena,
que as ondas tristes pela minha pena,
trouxessem vaga a me dizer tolices.
Daria meses, anos dessa vida,
se num murmúrio, mesmo distraída,
ouvisse enfim: -"Chegou o teu Ulisses".
desfiz-me em rimas de sonetos vãos.
Indivisível como o teu escudo,
só mesmo a brisa que me fez canção.
Teci mortalhas para um peito mudo,
que em noites frias de sofreguidão
eu desmanchava, rejeitando o luto,
como o ataúde de meu coração,
Em frente ao mar eu aguardei serena,
que as ondas tristes pela minha pena,
trouxessem vaga a me dizer tolices.
Daria meses, anos dessa vida,
se num murmúrio, mesmo distraída,
ouvisse enfim: -"Chegou o teu Ulisses".
Fraternal - Helena Ortiz
três machos sem direito a cópula
cagam três vezes ao dia
num cativeiro moderno
recolha-se a merda
banho e ração
Ralph, Mateus e Subcomandante
pastores pastoreando passarinhos
ó como eu gosto de animais
três machos sem direito a cópula
ouvem o canto da sereia
no quintal de seu monastério
atacam-se decepando orelhas
mordem saco lombo jugular
em meio a latidos vão fazendo
vermelha a arena do combate
agora aí estão lambendo-se
lambendo-se as feridas como irmãos
cagam três vezes ao dia
num cativeiro moderno
recolha-se a merda
banho e ração
Ralph, Mateus e Subcomandante
pastores pastoreando passarinhos
ó como eu gosto de animais
três machos sem direito a cópula
ouvem o canto da sereia
no quintal de seu monastério
atacam-se decepando orelhas
mordem saco lombo jugular
em meio a latidos vão fazendo
vermelha a arena do combate
agora aí estão lambendo-se
lambendo-se as feridas como irmãos
Linda mentira - Yvonne de Oliveira Silveira
Cristalização de
sonhos
nas noites insones:
os braços vazios embalam o corpo
translúcidos e belo do meu menino.
Cresce no tempo o sonho inútil.
e cresce o menino.
Imagens passam móveis, voláteis:
um ser perfeito se desenvolvendo
nos dias falsos
da vida mítica,
alma de anjo, carne de santo.
- Não fora de sonho o meu menino!
Amores de moças,
invejas de moços,
garbosa avança o meu rapaz,
segue o destino que eu mesma fiz,
sempre vencendo,
nunca perdendo,
Alma de anjo, carne de herói.
- Não fora de sonho o meu rapaz !
Ah, imagens que passais
pelos caminhos dos meus sonhos!
imagens do desejado
inutilmente esperado.
O tempo derrubou
os meus castelos.
A árvore morre sem frutos,
vendo a fúlgida visão fugir
no quebranto da vida.
Caminho - Weydson Barros Leal
Ontem passei pela tua calçada
como quem passa pela vida.
O tempo seguia o seu antigo
cortejo – os seus números – e eu
seguia o caminho que a vida oferece
aos que não encontram a alegria.
Todos os anos passamos pelo dia
de nossa morte, como passa,
desavisada e cega, toda a gente
sobre toda calçada.
O futuro se dissolverá ante o mistério
como um calendário perdido não deixará nunca de passar.
Alcancem o céu os transeuntes daquela rua comum,
por neste dia, como em segredo,
pisarem o tempo, ainda, ainda, ainda.
como quem passa pela vida.
O tempo seguia o seu antigo
cortejo – os seus números – e eu
seguia o caminho que a vida oferece
aos que não encontram a alegria.
Todos os anos passamos pelo dia
de nossa morte, como passa,
desavisada e cega, toda a gente
sobre toda calçada.
O futuro se dissolverá ante o mistério
como um calendário perdido não deixará nunca de passar.
Alcancem o céu os transeuntes daquela rua comum,
por neste dia, como em segredo,
pisarem o tempo, ainda, ainda, ainda.
domingo, 25 de maio de 2014
Breve sono - Tarcísio Meira César
A leveza da pálpebra dormente
tinha, quando uma tarde adormeci:
uma pequena morte que morri,
muito aquém de algum sono, o mais ardente.
Parecia uma névoa dissolvente
de um momento breve que escondi,
feito do mais esquivo e suavíssimo
instante despregado do poente.
Morri um breve sono desde o além,
silencioso e só e sem lembrança,
como se em nada dissolvesse alguém.
Eu era como a tarde que morria
entre um pedaço da noite e a esquivança
de um instante escondido em pleno dia.
Só por ti - Mariana Angélica de Andrade
Se a luz dos teus olhares me reanima,
Dando-me gozos que jamais senti;
Se és a minha esperança mais querida,
Hei-de perder-te? Não! Se o amor é vida,
Quero viver por ti!
Mas se a vida tem dores cruciantes,
Temer não sei! Para sofrer nasci…
Abraço a minha cruz, busco o tormento,
E embora me domine o desalento
Quero sofrer por ti!
Não estranho os espinhos da desdita,
Porque sempre em espinhos me feri…
Se hei-de trilhar ainda mais abrolhos,
Se mais prantos virão turvar meus olhos,
Quero chorar por ti!
Só pelo teu afecto esqueço os entes
Que mais amei na terra, e que perdi!
É destino! Quem foge à sua sorte?…
Eu a bendigo; e, se o amor é morte,
Quero morrer por ti!
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