domingo, 18 de maio de 2014

A noite é sonho intraduzível - Genésio Linhares


A noite é sonho intraduzível
É rua das fêmeas de saias curtas
A noite são luzes e becos
Bares e boates em chamas.

A noite é delírio de sexos
De mentes criminosas
À noite os monstros da alma
Revelam sua vera face.

À noite as sombras imperam
As esquinas se tornam sombrias
O medo é o fantasma a pairar
Por trás de cada árvore.

À noite perturba os sãos
Encantam os poetas desejosos
Enfurecem os perturbados
Enlouquecem os amantes.

A noite é mistério sagrado
É cálice de vinho e cerveja
A ser sorvida com parcimônia
Pois há excesso de essência.


A noite tem idioma secreto
Nem todos estão preparados
Para entender sua linguagem
Rica em sentidos de vida e morte.

A noite é simbolismo ardente
Fogo das paixões humanas
Chama dos desejos mais profanos
A invadir ruas e prostíbulos.

A noite é um cosmo invertido
Fonte eterna de versos e reversos
De poemas etéreos e inconsúteis
De clássicas canções de botequim.

A noite é espelho para a morte
E para a vida, para o belo e o feio
Para o amor, a paixão e tragédia
A noite é sangue, é lua e ilusão.

A noite guarda mágoas e desilusões
Guerras, tramóias e segredos
A noite é cavalo de Tróia
Armadilha aos desavisados.

A noite é a mandala dos simulacros
A rosa mística de seus amantes
O ying e yang da roda da vida
O jogo de faz de contas.

A noite é um baralho de cartas
É a roleta russa dos destemidos
O jogo de dados dos divos afoitos
O palco das divas sedutoras.

A noite é o show de Eros
A mesa de Dionísio e Afrodite
Do amor efêmero, mas veraz
Dos flertes certeiros sem morais.

A noite é sutileza de luzes
E sombras. É jogo de dança
E sensualidade sem par
É fumo inebriante de ópio.

A noite é um mergulho
Na caixa de Pandora
Muitos se lançam e não voltam
Outros são mais comedidos.

A noite é um sonho divino
Intraduzível retrato do ser
Em seu mais íntimo recôndito.
A noite é mestra. Escutemo-la.

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