sexta-feira, 16 de maio de 2014

Canção do Exílio - Casimiro de Abreu

Se eu tenho de morrer na flor dos anos
         Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
         Cantar o sabiá!

Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
         Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
         Os gozos do meu lar!

O país estrangeiro mais belezas
         Do que a pátria não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
         Tão doces duma mãe!

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
         Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
         O céu do meu Brasil!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos
         Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
         Cantar o sabiá!

Quero ver esse céu da minha terra
         Tão lindo e tão azul!
E a nuvem cor-de-rosa que passava
         Correndo lá do sul!

Quero dormir à sombra dos coqueiros,
         As folhas por dossel;
E ver se apanho a borboleta branca,
         Que voa no vergel!

Quero sentar-me à beira do riacho
         Das tardes ao cair,
E sozinho cismando no crepúsculo
         Os sonhos do porvir!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
         Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
         A voz do sabiá!

Quero morrer cercado dos perfumes
         Dum clima tropical,
E sentir, expirando, as harmonias
         Do meu berço natal!

Minha campa será entre as mangueiras,
         Banhada do luar,
E eu contente dormirei tranqüilo
         À sombra do meu lar!

As cachoeiras chorarão sentidas
         Porque cedo morri,
E eu sonho no sepulcro os meus amores
         Na terra onde nasci!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
         Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
         Cantar o sabiá!

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