segunda-feira, 12 de maio de 2014

Desesperança - Antero de Quental

Vai-te na asa negra da desgraça,
pensamento de amor, sombra duma hora,
que abracei com delírio, vai-te embora,
como nuvem que o vento impele... e passa
 
Que arrojemos de nós quem mais se abraça,
com mais ânsia, à nossa alma! e quem devora
cessa alma o sangue, com que mais vigora,
como amigo comungue à mesma taça!
 
Que seja sonho apenas a esperança,
 enquanto a dor eternamente assiste,
 e só engane nunca a desventura!
 
Se em silêncio sofrer fora vingança!. 
Envolve-te em ti mesma, ó alma triste, 
talvez sem esperança haja ventura!

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