sexta-feira, 9 de maio de 2014

Eu luminoso não sou - José Saramago

Eu luminoso não sou. 
Nem sei que haja
     Um poço mais remoto, e habitado
 
De cegas criaturas, de histórias e assombros.  
Se, no fundo poço, que é o mundo  
Secreto e intratável das águas interiores,  
Uma roda de céu ondulando se alarga,  
Digamos que é o mar: como o rápido canto  
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável  
O movimento de asas. 
O musgo é um silêncio,  
E as cobras-d'água dobram rugas no céu,  
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário