quarta-feira, 14 de maio de 2014

Terceira idade - Clodoaldo Turcato


Um dia tu chegarás lá!
Aos vinte anos surgirão os primeiros sinais
Fios (poucos) brancos em meio à floresta negra
Ainda os vencerá, arrancando-os, trocando a tonalidade
Mas terás pouco tempo para voltar ao espelho

E aos trinta perceberás que a mecha crescera
Algumas cavidades aparecerão na fronte
Por essa época algum filho terá casado
Algum neto estará por nascer
Mas terás somente trinta
E com uma vida toda pela frente
Nada o assustará

Dez anos depois estará grisalho
Todas as pinturas tornar-se-ão quimeras
Em poucos dias a pintura tornará à velha cor
Caso não os tiver perdido de todo
Sejamos benévolos e consideremos que não
Mesmo com rugas e papadas
Estarás com apenas quarenta
Terás muito tempo pela frente

Rapidamente a olheiras apontarão cinquenta
A fadiga impedirá aventuras impróprias
E melancolia tomará seu dia
Quando a cidade era mais bela
As mulheres eram mais lindas
E a vida era mais vida

O pavor vem aos sessenta
E as forças serão outras
Quiçá óculos e muletas te auxiliarão
O passo arrastado não terá mais corridão
E a respiração será ofegante
Perceberás algumas gentilezas novas
Direitos novos e gratuidades
Outras maldades e pouco caso
Logo contigo, um Senhor!
Sim, todos te chamarão por senhor
E o termo te cairá tão apropriado
E os jovens andarão tão rápido...

Para setenta será um salto
Algum filho o estará velando
Cuidados com barulhos
Demoras, quedas e remédios
O dia-a-dia o tornará um estorvo
E algum neto poderá sugerir um asilo
Afinal de contas tal local será bem mais adequado
Não haverá tempo para carinhos
É, companheiro
Fique calmo, tranquilo
Não tenha pressa alguma
Pois com toda a certeza
Um dia chegarás lá.

Nenhum comentário:

Postar um comentário