segunda-feira, 2 de junho de 2014

Ribatejo - Marilia Gonçalves

Dobrados sobre a terra ao sol ardente
robustos camponeses se moviam.
Trabalho sobre o que ontem foi semente
entre seus dedos ásperos, verdes riam.
Brilhavam como sóis miniaturais
os milheiros, as uvas, as maçãs,
e nos rostos de bronze, esculturais,
iam nascendo manhãs sobre manhãs.
Neles havia traços de franqueza.
Os meus olhos loiros infantis
guardavam tesouros de beleza
dessa colheita que em seus olhos fiz.

Ó minha humana escola solidária
quando não era mais que uma menina
a minha alma livre e libertária
incendiou-se na vida campesina.

Em cada gesto vosso, a descoberta...
de vós só aprendi o que há de bom!
O vosso coração, de porta aberta
é que foi dando ao meu, o vosso tom.

Quando eu chegava, já as andorinhas
tinham voltado ao ninho, nos beirais.
Meu olhar voando sobre vinhas,
poisava na brancura dos casais.

Envolvente odor a sardinheiras
inebriava o ar e os sentidos...
em passadas curtas, mas ligeiras
descobria nos dias proibidos
com meus pés infantis, a Liberdade
pra sempre inscrita no meu coração!
Nessa autêntica fonte de bondade,
a vossa generosa rectidão,
transformou em juvenil realidade
a colheita, a dádiva do pão!

Agora quando em mim chegou a tarde
está ainda presente, a vossa mão!

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