quinta-feira, 24 de julho de 2014

Aritmética Final - Rafael Rocha

(in POETAS DA IDADE URBANA, Ed. Do Autor, Recife/2013) 

A passagem do tempo enruga e tortura
Aperta saudades e lembra a loucura
Do ontem perdido onde não mais se faz.
A passagem do tempo é madrasta da vida.
Subtrai sonhos! Torna a alma dividida
Entre o fim e o jamais.

Que merda esses cálculos impostos
A nossos corpos a trazer desgostos
Como querendo imitar ciência e arte!
Nada mais de perder tempo na paisagem
O ideal é matar essa miragem
Onde a morte nos reparte.

Sentar à mesa de um bar e sorver a noite
Nos goles das cervejas e em pernoite
Na primeira mulher a nos chamar.
Cigarro nos lábios acendendo a vida
Antes que ela diga-se consumida
Melhor se embriagar.

Idiota o homem a não saber o caminho
E a levar o corpo em oração até o ninho
Do mármore frio, branco e sepulcral.
Sábio o homem a se fazer semente
Vivendo a dizer ao seu mundo demente:
A vida é casual!

Tão estranhos são esses logaritmos
Todos dançando fora dos ritmos
Da raiz quadrada universal.
Nem o filho nem a virgem nem o deus
Explicam esses motivos de adeus
Na aritmética final!

Assim eu chamo amigos e amantes
Venham até junto a mim como bacantes
À orgia da cerveja e do prazer.
Daremos vivas e tilintar a nossos cálices
De mortais deslizando até os ápices
Dos anseios de viver.

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