quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Cheira! - William Carlos William

Tradução de Lucas Sant’Anna

Ó cavado a fundo e profundamente oco
Nariz meu! – O quê, acaso, não cheirarás?
Que rudes imbecis somos, eu e tu, nariz ossudo
Sempre indiferentes, sempre desavergonhados!
Agora, são as flores azedas dos álamos
Lamacentos – uma massa apodrecida na terra molhada
Abaixo destes – Com que sede extravasada
Apressamos nossos desejos, ó nariz meu,
Por aquele odor rançoso de uma primavera que morreu!
Não consegues ser decente? Não podes guardar teus ardores
Para algo menos desagradável? Que menina se importará
Conosco, crês, a seguirmos nesses modos?
Tens de experimentar tudo? Tens de saber tudo?
Tens de meter-te em tudo?

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