segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Dúvida de Electra – Delfina Acosta

Acaso essa mulher - creio tê-la visto sempre -,
que me olha do meu modo
desde aquele imenso espelho,
que ostenta meu vestido azul
e leva este lenço
de cor dando voltas
em ondas pelos ombros
- parecia mais contente instantes atrás -,
não sou eu.
É possível duvidar dos espelhos?
E da calóptrica e suas leis?
E das imagens sensatas?
Anos que levo mirando-me em seus rostos,
duvidando seriamente de sua fidelidade.
Anteontem o busto de Ifigênia, filha de Agamenon,
Rei de Micenas e de Argos,
nesta manhã, Joana, embandeirada e resoluta,
Virginia Woolf de tarde, pasmada de mar,
amamentando crustáceos.
Agora, quem se atreverá a dizer-me
que essa mulher aqui diante
e sentada frente ao espelho,
sou eu, setenta vezes eu,
sem mirar-se antes nele?

Um comentário:

  1. Com sua autorização, vou colocar este no meu blogue
    http:/intemporal-pippas.blogspot.pt
    Obrigada.
    Cumprimentos
    Irene Alves

    ResponderExcluir