segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Os burgueses – Carlos Ordoñez

Eu os vi rindo
mas são sérios e certeiros,
meditam na cor dos domingos,
contemplam as fábricas e os sinais de fumaça
de seus empregados,
caminham devagar,
saúdam amavelmente os juízes,
lêem a Bíblia em suas camas de água,
adoram o som da bachata e escutam
música de protesto
quando viajam em seus carros de vidros escuros.
Suas mansões têm caminhos inexplorados,
pátios para perder-se a cavalo
e amorosos mastins educados
por assistentes ingleses.
Os burgueses aprendem a conviver
com os miseráveis,
depositam cheques em branco para a esmola da igreja,
assistem a ópera e leem Romeu e Julieta,
organizam saraus e nunca entendem
os poemas de Vallejo,
contemplam sua beleza nos espelhos iluminados
e nos cristais da sala,
e depois, quando a noite desce,
sentem-se felizes e invencíveis,
porque acreditam que durante o dia
foram bons cristãos,
então dormem como corujas
nadando em um mar de puro ouro e espanto.

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