quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Quando abri meu coração - Alcira Cardona Torrico

(Tradução de Antonio Miranda)

Quando abri meu coração, havia dentro
um deus ferido;
caía pela  face esquerda
até romper a luz
e estremecer a terra.

Quando abri meu coração
havia uma oliveira incendiando entre raios.
Percutia o punho dos vazios
e brandia seus braços o estrago.

 Quando abri meu coração,
as fráguas não mais ardiam,
mas o duro golpear dos ferros
arrastava
estrondos carcerários e suspiros.

Quando abri meu coração,
o poema, viu a descarnada face da guerra,
de seus lábios saíram os adeuses,
houve tremores noturnos
e a silenciosa fuga das estrelas.

Quando abri meu coração, rompiam-se a pena,
o roído, o pó
e as últimas palavras desencontradas,
os olhos na sombra submersos
as lembranças insones
revolvendo-se no vazio.

Quando abri o coração,
as lágrimas do  mundo eram maiores!...

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