sábado, 13 de dezembro de 2014

VERÃO - José Santiago Naud


Eu te chamo tumulto 
e virei sobre ti 
ao fogo dos frutos 
na hora em que a polpa da tarde 
fende 
e pelo campo escorrem farelos de ouro 
à luz azul da bruma. 

Para ti alço 
com a rigidez de um bico, 
garras, córneas, penas descendo 
em teu tremor, 
instante todo de corpo a não ser 
mais que carcaça, maré, esvaimento. 

E quando, inerte 
- casca ou pele, gretado 
o teu querer não for mais que apetência 
ou saudade, 
o sangue a escorrer ainda 
escondendo os talos da grama mais pequena, 
há-de permanecer aos olhos que o não vêem 
íntimo sinal de união 
entre a fêmea e o macho 
- o que penetra 
e quanto, deixando penetrar 
inaugura.


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