domingo, 23 de agosto de 2015

O APANHADOR DE SONHOS – Valdeci Ferraz

Eu vi um homem com um saco nas mãos
Recolhendo os sonhos abandonados
Pelos homens vazios.
Seus pés estavam cheios de bolhas
E chorava cada vez que encontrava um sonho.
Segui-o de longe
Temendo que minha presença o incomodasse.
Ele andou por muitas ruas
E ao se aproximar das pessoas
Tirava o chapéu
Não para pedir alguma coisa,
Mas como uma reverência
De alguém diante de uma autoridade.
Alguns sorriam simplesmente,
Outros faziam menção de dar-lhe uma esmola
Ainda outros fingiam não vê-lo
Depois de caminhar o dia todo
Ele tomou o caminho de casa
Atravessou uma floresta de eucaliptos
Chegando a um imenso castelo
No meio de uma clareira
Antes de entrar olhou para trás e me viu
Antes que me escondesse ele me chamou
Quer conhecer a minha casa?
A voz dele era como uma música
O portão se abriu e pude ver
Os sonhos perdidos dos homens vazios
Eu tinha a impressão que estava entrando
Em uma gigantesca tela de Dali
O primeiro sonho que vi foi uma orelha
Encravada nas asas de uma borboleta
Encontrei este em uma casa de surdos
Explicou o apanhador de sonhos
Aqui há toda espécie de sonho:
Pequenos,
Médios,
Grandes,
Loucos,
Infantis,
Obscenos,
Serenos,
Possíveis,
Impossíveis
Porque você os recolhe?
Indaguei
Porque eu confio nos homens
Eles não podem viver sem seus sonhos
Mas estes sonhos impossíveis?
É melhor um sonho impossível do que nenhum.
De repente ouvi uma grande gritaria lá fora
Subi no muro que circundava o castelo
E vi milhares e milhares de homens e mulheres
Tinham os olhos tristes e eram secos
Quem são esses?
Indaguei
Eles vieram buscar seus sonhos.

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