quinta-feira, 24 de março de 2016

HOMENS E BOIS – César Leal


Como um cruzador regressa 
ao porto e vai descansar 
das muitas fadigas juntas 
em suas patas de radar, 
regressam os bois ao curral 
a mugir na cerração 
do pó que as patas levantam 
do lombo-azul do verão. 
Marcham sempre organizados 
- como marcha um batalhão - 
são tristes, magros e tristes 
os magros bois do sertão. 
Alguns morrem mesmo bois, 
pescoço atado ao cambão, 
outros morrem a morte de homens: 
sangue a correr pelo chão. 
Esse o destino dos dois 
(homem ou boi, não importa o nome) 
ambos morrem para matar 
(dos canhões e homens) a fome. 

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