quarta-feira, 16 de março de 2016

RIO UNA - Manuel Bentevi

À margem do rio Una
nasci em uma casinha
onde um saudoso graúna
cantava de manhãzinha.
Mamãe disse, e eu me lembro
que foi a seis de setembro
num bom tempo de estio,
que cheguei ali, estranho
e tomei o primeiro banho
na água daquele rio.

Eu com a minha mãezinha
os meus irmãos e meu pai
em uma humilde casinha
já velhinha, cai não cai.
Aí fui crescendo
de tudo fui entendendo
comecei a compreender
dia e noite, noite e dia
o rio secava e enchia
e a água sempre a correr.

O rio de lado a lado
formava grossa corrente
e eu em casa sentado
olhando a enorme enchente
pau, caiçara, baronesa
desciam na correnteza
ali pro lado do mar
tudo na cheia descia
a água toda corria
e o rio no mesmo lugar.

Meus pais morreram, eu saí
e nunca mais fui por lá
porém depois que cresci
me lembro sempre de cá.
Daquela morada antiga
daquela gente amiga
que jamais esquecerei.
Aquele tempo ditoso
aquele rio bondoso
onde um dia me banhei.

Ó rio de Una falado
rio que o poeta adora
rio onde me banhei
naquele tempo de outrora
há pouco fui visitá-lo
e pensei até encontrá-lo
triste, velho e acabado
eu o achei um colosso
parece ainda mais moço
do que no tempo passado.

Eu fiquei cheio de mágoa
meu peito empalideceu
tomei banho e bebi água
o rio não me reconheceu
ele perdeu a lembrança
quando eu era pequenino
eu, velho, cheio de defeito
e o rio do mesmo jeito
parece ainda ser menino.

Não é por isso que eu deixo
de gabar meu rio Una
nem tampouco me queixo
do meu amado graúna
que toda manhã cantava
e eu o apreciava
naquele tempo sombrio
hoje lembro a mocidade
mas só me resta a saudade
do meu graúna e do rio.

Na margem do rio Una
não há mais minha casinha
nem o saudoso graúna
canta mais de manhãzinha.
Sem mãe, sem irmão, sem pai
da minha mente só sai
a triste recordação
jamais me banhei no Una
jamais eu vi meu graúna
e tudo termina em não.

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