quarta-feira, 4 de maio de 2016

MINHA MULHER É UMA FLOR – Valdeci Ferraz

Minha mulher é uma flor,
dessas que a brisa sopra de leve
temendo derrubar suas pétalas.
Ela mantém o lar sempre perfumado
e sua presença traz luz ao ambiente.
Ela adora a chuva no fim da tarde,
mas não dispensa o sol na manhã seguinte.
À noite, enquanto ela dorme,
escuto os beija-flores bicando o vidro da janela,
querendo sugar o seu néctar.

Quando me deito ao seu lado
me sinto um tronco de árvore, velho, sujo, enlameado.
Temo esmagá-la com meus dedos obscenos,
mas a seiva que escorre do seu corpo é tão forte
que me transformo em um menino.
E como menino, lembro-me de minha mãe,
que também era uma flor.
As duas flores se fundem
e surge a figura de uma fada.
Aninho-me em seus braços
e desafio os fantasmas, os dragões,
os vampiros e os lobisomens.

Minha mulher é uma flor. 
Gosta de me ouvir em sussurro
e espalha lã por onde passa. 
Esse é o caminho do meu amado,
ela parece dizer para todos os homens e mulheres. 
Engulo a corda e estufo o peito.
Satisfeito, prometo ser a fonte 
onde ela possa sempre se banhar. 
Prometo ser uma nuvem para livrá-la do sol quente. 
Prometo segurar o trovão para não vê-la estremecida.
Prometo segurar o tempo para não vê-la murchar. 
Prometo até na outra vida 
nascer um cravo e por ela esperar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário