quarta-feira, 28 de setembro de 2016

DOIS SONETOS DE ALBERTO DE OLIVEIRA

CHEIRO DE ESPÁDUA

Quando a valsa acabou, veio à janela,
Sentou-se. O leque abriu. Sorria e arfava,
Eu, viração da noite, a essa hora entrava
E estaquei, vendo-a decotada e bela.

Eram os ombros, era a espádua, aquela
Carne rosada um mimo! A arder na lava
De improvisa paixão, eu, que a beijava,
Hauri sequiosa toda a essência dela!

Deixei-a, porque a vi mais tarde, oh! ciúme!
Sair velada da mantilha. A esteira
Sigo, até que a perdi, de seu perfume.

E agora, que se foi, lembrando-a ainda,
Sinto que à luz do luar nas folhas, cheira
Este ar da noite àquela espádua linda!

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O PIOR DOS MALES


Baixando à Terra, o cofre em que guardados 
Vinham os Males, indiscreta abria 
Pandora. E eis deles desencadeados 
À luz, o negro bando aparecia. 

O Ódio, a Inveja, a Vingança, a Hipocrisia, 
Todos os Vícios, todos os Pecados 
Dali voaram. E desde aquele dia 
Os homens se fizeram desgraçados. 

Mas a Esperança, do maldito cofre 
Deixara-se ficar presa no fundo, 
Que é última a ficar na angústia humana... 

Por que não voou também? Para quem sofre 
Ela é o pior dos males que há no mundo, 
Pois dentre os males é o que mais engana. 

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