sexta-feira, 12 de maio de 2017

CÂNTICO DE MULHER - Dora Incontri

(Em homenagem ao 8 de março)

O meu nome é mulher 
Luar de pedra 
Lua pálida que se inclina 
Sobre a noite em mistérios 
E semeia feminina 
Seus perfumes etéreos 
Peregrina dos séculos 
Pedra que esteia 
Orgânica, na terra 
Vulcânica se alteia 
Pedra em que se medra 
A seiva na veia. 
O meu nome é mulher 
Tantas vezes escrava 
Proclamada rainha 
E que no tempo escava 
Sua sina liberta! 
Que ainda assim caminha 
Com essa veia aberta 
Para ser-me só minha! 
O meu nome é mulher 
Suave e guerreira 
Cantante e altaneira 
Cortante e materna 
Nunca mais calada 
Nem mais exilada 
De sua força eterna! 
O meu nome é mulher 
Que nunca mais se quer 
Abaixo ou metade 
Com véu ou despida 
Ao desejo do macho. 
Acuada ou vendida. 
Nunca mais capacho 
De um mundo viril. 
Mas ternura inteira 
Nem puta, nem freira 
Feminina e varonil. 
O meu nome é mãe 
Meu abraço é colo 
O meu cântico é cálido 
O meu peito é solo. 
Não renego filhos 
Não desamo os homens 
Não desmamo ninguém. 
Não disputo vintém. 
Não invejo brilhos 
Sou meus próprios trilhos. 
Sou a musa e a poeta 
Sou livre e alerta. 
Vou por altas veredas 
Sem verdades azedas! 
Mas nada concedo 
Nem conheço o medo 
Apenas me cedo 
O rosto enxugado 
E um manto rendado 
De múltiplas estrelas 
Sabendo que um dia 
Em tempos serenos 
Em meus olhos plenos 
Hei de rútilas tê-las 
As fúlgidas estrelas...

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