terça-feira, 19 de setembro de 2017

O SELVAGEM – Antonio Gomes Leal

Eu não amo ninguém. Também no mundo
Ninguém por mim o peito bater sente,
Ninguém entende meu sofrer profundo,
E rio quando chora a demais gente.

Vivo alheio de todos e de tudo,
Mais calado que o esquife, a morte e as lousas,
Selvagem, solitário, inerte e mudo,
- Passividade estúpida das Cousas.

Fechei, de há muito, o livro do Passado
Sinto em mim o desprezo do Futuro,
E vivo só comigo, amortalhado
N'um egoísmo bárbaro e escuro.

Rasguei tudo o que li. Vivo nas duras
Regiões dos cruéis indiferentes,
Meu peito é um covil, onde, às escuras,
Minhas penas calquei, como as serpentes.

E não vejo ninguém. Saio somente
Depois de pôr-se o sol, deserta a rua,
Quando ninguém me espreita, nem me sente,
E, em lamentos, os cães ladram à lua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário