quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

ENVOI (1919) – Ezra Pound



Tradução de Augusto de Campos
Vai, livro natimudo,
e diz a ela
que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
mais canção, menos temas,
então se acabariam minhas penas,
meus defeitos sanados em poemas
para fazê-la eterna em minha voz

Diz a ela que espalha
tais tesouros no ar,
sem querer nada mais além de dar
vida ao momento,
que eu lhes ordenaria: vivam,
quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
rubribordadas de ouro, só
uma substância e cor
desafiando o tempo.

Diz a ela que vai
com a canção nos lábios
mas não canta a canção e ignora
quem a fez, que talvez uma outra boca
tão bela quanto a dela
em novas eras há de ter aos pés
os que a adoram agora,
quando os nossos dois pós
com o de Waller se deponham, mudos,
no olvido que refina a todos nós,
até que a mutação apague tudo
salvo a Beleza, a sós.

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