segunda-feira, 23 de abril de 2018

ABRIL – Fernando Fiuza

Abril melava o chão da tarde de cajá
e um gato ronronava dentro do meu peito;
as estradas de lama – quase tudo brejo
onde as almas diziam às rãs coisas do mar.

Não se plantava nada, o mato crescia quieto
e era dono de tudo, dono até das telhas;
a chuva disputava os ares com o silêncio
e um barco de papel coloria a correnteza.

O cavalo mancava – cegos pêlo e crina
que a derradeira luz não mais os penteava -,
a roseta com sangue entre os dentes não gira;
era a vez da leitura e palavras cruzadas.

Abril jamais me foi cruel e sim molhado
- quem sabe são meus olhos, restos do naufrágio.

(De: O Vazio e a Rocha)

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