terça-feira, 17 de julho de 2018

SONETO - Eduardo Guimarães

"Tudo que faz da carne um mistério inquietante,
languescências, brancor de túmulos ao luar,
marfins de rosa murcha, inerte e singular,
tudo o seu corpo tem, de abandonada amante

Nimba-lhe a fronte o horror. Quando emudece, o olhar
mostra a antiga tortura eterna e alucinante,
porque os seus olhos são dois tercetos de Dante
que Gustavo Doré deixou por ilustrar!

Do gesto vão, jamais de arremesso ou de assomo,
fez o esforço brutal que dá glória ao perigo;
atrai assim, contudo, a alma do sonhador,

Magnífica, fatal e funerária como
hirta e nua, ao entrar de um cenotáfio antigo,
uma estátua da morte, um mármore de dor!"

(Do livro A Divina Quimera, 1916)

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