quarta-feira, 7 de novembro de 2018

MIRAR-SE – Guto Leite

há um espelho colocado fora
que anda comigo
nele me vejo continuamente

às vezes reflete o desconhecido
mínimo e profundo
que transpareço

mas normalmente em seu corpo
deita aquilo que costumo
ter por mim

a aparência com que a luz
aprendeu a enganar-me
os sonhos laminados

a grandeza hesitante
que se exibe
esquiva do acaso

o espelho por outro lado
me vê com as mesmas ressalvas
e vaidades

pergunta-se o quanto de mim
pode dizer de si mesmo
qual é a parte da carne

em que não se reconhece
se minha face o reflete
se escreve o mesmo poema

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