terça-feira, 8 de março de 2016

RETRATO DE MULHER TRISTE – Cecília Meireles


Vestiu-se para um baile que não há. 
Sentou-se com suas últimas joias. 
E olha para o lado, imóvel. 

Está vendo os salões que se acabaram, 
embala-se em valsas que não dançou, 
levemente sorri para um homem. 
O homem que não existiu. 

Se alguém lhe disser que sonha, 
levantará com desdém o arco das sobrancelhas, 
Pois jamais se viveu com tanta plenitude. 

Mas para falar de sua vida 
tem de abaixar as quase infantis pestanas, 
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário