segunda-feira, 30 de novembro de 2020

MALEFÍCIO – Rafael Rocha

 

Subiu o odor acre de flores mortas

................................ao nascer do último sol

de quando o arrecife abriu suas pedras

para viver dias sombrios em seus corais

e o maléfico odor perseguiu os seres

em todas as avenidas da grande cidade.

 

Era a marca inconfundível da morte

vinda desde o carnaval findado

de quando o Galo cantou última vez

de quando todos estavam felizes

abraçados uns com umas

e com outros e sem medo.

 

Enregelaram-se as letras nos jornais

alguns dias depois das festas humanas

e um hálito pútrido tomou os ares

irmanado com a morte e com os prantos.

De cada ponto dos corais dos arrecifes

................................tudo ficou entregue ao vazio.

 

Agitou-se o mar 2020

....................................................do “Homo sapiens”

e os navios estacionaram no porto.

Aos poucos as quilhas

se foram enferrujando

e os marujos sendo jogados ao mar.

Tanto ao céu ao oceano

e à terra e aos rios

....................................................o mundo padecia

O GOZO DE DEUS – Alberto Lins Caldas

 

onde em toda essa merda
está deus senão vendendo escravos
roubando moedinhas de fiéis e crentes
comendo o cu de proletários servidores
prostitutas professores miseráveis e cães
sempre gozando mais com o dinheiro
que a cada tinir de moedas faz esporrar
deus reis milicos piolhos e funcionários
porque nada faz gozar tanto quanto ouro
mesmo que tudo se foda o ouro faz gozar
mesmo que seja numa minúscula morte
entre sol maré e corvos gargralhando
o certo é que nessa ridícula banalidade
quem goza mais e sinceramente é deus
que não aguenta moedas de ouro no cu
sem esporrar universos de pura merda

domingo, 29 de novembro de 2020

MANGUEIRA VELHA – Pedro Rabelo

 

Foi aqui. Neste tronco hirsuto, certo dia,
Viemos a data abrir das primeiras promessas...
Para nol-as dourar, sobre nossas cabeças,
Do alto o sol através das árvores descia.

Contemplarão-nos. Tu, cujo rosto sorria,
“Não me esqueças”, disseste, e eu disse; “não me esqueças!”
E afastamo-nos, pois que de tua casa, às pressas,
Vinham todos os teus procurar-te, Maria.

Esqueceste-me. O sol que as nuvens avermelha,
Não nos viu nunca mais namorados e ufanos...
Breves anos o nosso eterno amor findaram...

Seja sempre abençoada esta mangueira velha!
Esta que inda o conserva através de dez anos,
Mais do que nossos dois corações o guardaram.