sexta-feira, 27 de novembro de 2020

ÚLTIMO ATO - Luiza Aparecida Mendo

 

Espicho o olhar na janela
A vida brilha lá fora, nunca vi brilhar,
As flores rasgam-se em cores.
Os pássaros salpicam o ar com seus penachos.
Fêmeas e machos em primavera.
Deus, onipresente e constante,
Onipotente e contente Sol brilhante
A espalhar-se em vida no planeta.
O que é uma dorzinha à toa diante disso?
Um diagnóstico passageiro, um nada.
O cheiro da injeção e das rosas no jardim
Misturam-se, numa lufada de vento primaveril,
Pela janela aberta entre o leito e a algazarra.
Benditas sejam as janelas!
Sonolenta, vejo a borboleta brincando no peitoril.
Ela não sabe o quanto desamarra meus velhos nós,
O quanto está lapidando os meus sentidos.
O sol ilumina meus átomos sem dispersão
E, ainda assim, sou eu mesma,
Leve, solta, como as borboletas
que atravessam a janela.

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