quarta-feira, 30 de setembro de 2020

PARTIDA - Philip Larkin

Tradução de Jorge Wanderley
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Há um anoitecer se aproximando
Através dos campos; um que jamais foi visto
E que não acende lâmpada alguma.

A distância parece de seda, embora
Quando puxado por sobre os joelhos e o peito
Não traga nenhum conforto.

Para onde foi a árvore, que atava
A terra ao céu? Que há sob as minhas mãos
Que não posso sentir?

Que força atrai minhas mãos para baixo?

terça-feira, 29 de setembro de 2020

AS ÁGUAS SECRETAS – D. H. Lawrence


Tradução de Leonardo Froes
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Tudo o que se perdeu e achado
tudo o que foi ferido e curado,
a chave da vida nos corpos da gente
abre as fontes da paz novamente.

As fontes da paz, as fontes da paz
emanam mansas num aumento capaz
de borbulhar, porem sob a parede pesada
da casa da vida que mantém a gente fechada.

Borbulham pois sob a parede em questão
do que antes foi casa e agora e bruta prisão,
sem que nunca um de nós tome consciência
de que as águas subiram na maior veemência.

Nenhum de nós sabe, jamais leva em conta
que a nascente da paz jorra e desponta
em segredo por baixo das paredes imundas
da casa-cárcere que a todos circunda.

E jamais saberemos que e essa a ordem
até que as secretas aguas transbordem
abalando os tijolos e aquela sólida massa
das paredes nas quais a nossa vida se passa.

Até que o abalo das paredes desague
em fendas, brechas, a casa inteira naufrague
sobre nós e o estrondo de libertação que ela faz
seja morte para todos, no aguaceiro da paz.

DE NOITE – Teixeira de Pascoaes

Tradução de Rodolfo Alonso
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Quando me deito ao pé da minha dor,
Minha noiva-fantasma; e em derredor
Do meu leito, a penumbra se condensa,
E já não vejo mais que a noite imensa,
Ante os meus olhos intimas, acesos,
Extáticos, surpresos,
Aparece-me o Reino Espiritual...
E ali, despido o hábito carnal,
Tu brincas e passeias; não comigo,
Mas com a minha dor ... o amor antigo.

A minha dor está comigo ali,
Como outrora, eu estava ao pé de ti ...

Se eu fosse a minha dor, com que alegria,
De novo, a tua face beijaria!

Mas eu não sou a dor, a dor etérea ...
Sou a Carne que sofre; esta miséria
Que no silêncio clama!

A Sombra, o Corpo doloroso, o Drama ...