sábado, 12 de setembro de 2020

O VARREDOR DE RUA - Clodoaldo de Alencar

 

 A Hora morta da noite, à hora calada,
quando a cidade dorme, ei-lo varrendo
a rua, que se alonga, abandonada,
como uma enorme cobra se estendendo...

Varre, e, a cada morosa vassourada,
respira a poeira: tosse; e, assim sofrendo,
à proporção que lima a rua, nada
no pó do lixo e, aos poucos, vai morrendo.

Quando, às vezes, o encontro no trabalho,
limpando a via pública, tossindo,
morrendo assim para viver, presumo

que um homem vale tanto quanto valho,
- porque eu, que varro da alma um sonho findo,
na sua própria poeira me consumo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário