quinta-feira, 30 de novembro de 2017

NOVEMBRO - Piedad Bonnett

Tradução de  Rodrigo Savazoni


E chegaram as chuvas de novembro.
E com as chuvas as glicínias lilases
floresceram em meu quintal,
e pontuais, dourados e zombeteiros,
vieram bater em meus vidros
os besouros.

Em novembro,
seu nome, de repente, foi o nome dos dias,
e a umidade do ar meu desejo
e tua língua
um recente calor entre ninhos.

E foi para minha sede festa a chuva,
e as glicínias lilases
foram para minhas brumas sóis perdidos,
e os torpes insetos contra minha porta uma gostosa,
cintilante orquestra.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

AMOR FEINHO – Adélia Prado



Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero um amor feinho.

DISTÂNCIAS – Paul Celan

Tradução: Claudia Cavalcanti

Olho no olho, no frio,
deixa-nos também começar assim:
juntos
deixa-nos respirar o véu
que nos esconde um do outro,
quando a noite se dispõe a medir
o que ainda falta chegar
de cada forma que ela toma
para cada forma
que ela a nós dois emprestou.