(Limoeiro/PE, 06/05/1899 – Recife/PE, 29/10/1953)
......
Mil amores cantei. Fáceis amores...
Vagas Quimeras... leves utopias...
Vãos devaneios de que enchi meus dias
Nos vinte anos azuis dos sonhadores...
Mil amores cantei... mas, entre flores,
Beijos, risos, promessas, fantasias,
Vi-os bater as asas fugidias...
Não me deixaram lágrimas, nem dores.
Este, porém, que se aprimora em pranto
E renúncia em minh’alma – estranho e santo
Amor, a que não trazes teu socorro.
Este, sim! vale o canto que te oferto.
Ouve-o, e guarda-o! Ele é teu. Será, decerto,
O meu canto de Cisne. Canto-o e morro!
......
O ÚLTIMO PORTO
A Nehemias Gueiros
Porto do Desencanto. Cais do tédio.
Calmaria. Abandono. Solidão.
(A quem dizer meu último epicédio
A quem fazer minha última canção)
Depois de tanto malogrado assédio
a naus esquivas que bem longe vão,
– este ancorar soturno, e sem remédio,
do velho brigue que é meu coração…
meu navio-pirata doutros dias,
velas colhidas – que de nostalgias
nessa langue modorra junto aos cais!
Ontem Mar alto… expedições bizarras…
Hoje (é inútil que tremas nas amarras)
a solidão… a bruma… o nunca-mais!…
......
SALOMÉ TODA DE VERDE...
O teu vestido verde, esse vestido
com que te vi domingo, na novena,
não condiz bem com tua tez morena..
Não o uses mais! Atende a este pedido
Tu, que és somente Malvadez e Olvido
e tens no peito um coração de hiena,
olha que esse vestido te condena
e é, no teu corpo, um símbolo traído!
Guarda o vestido verde… ou não te zangue
o que te imploro aqui, flor das ingratas:
muda-lhe a cor… embebe-o no meu sangue!
Sou teu São João, ó Salomé sem dança!
mas, se – morena e má – rindo me matas,
não me mates vestida de esperança!…
......
POEMA DO FREVO
A Cidade, cedo, vira camarada,
vem toda para rua, […]
toda alvoroçada,
toda colorida,
sem pensar na crise,
sem pensar na vida,
sem pensar em nada…
vem toda para a rua vibrante, enfustecida
saracoteante.
vibrar,
delirar…
E a farsa burguesa dos vãos preconceitos
Visíveis e estreitos
– Olé !-
de logo é esquecida, anulada, vaiada em tumulto […]
isto é,
o estalido orgulho, a vã fatuidade,
toda a austeridade
da burguesia
de pronto se desfazem em louca alegria
– EVOÉ! EVOÉ! –
e haja liberdade,
e haja intimidade,
a larga, a vontade…
Que promiscuidade!
Que democracia!
Carnavalesca Cidade!
Paraíso da Folia!…
FOLIA!
......
Mil amores cantei. Fáceis amores...
Vagas Quimeras... leves utopias...
Vãos devaneios de que enchi meus dias
Nos vinte anos azuis dos sonhadores...
Mil amores cantei... mas, entre flores,
Beijos, risos, promessas, fantasias,
Vi-os bater as asas fugidias...
Não me deixaram lágrimas, nem dores.
Este, porém, que se aprimora em pranto
E renúncia em minh’alma – estranho e santo
Amor, a que não trazes teu socorro.
Este, sim! vale o canto que te oferto.
Ouve-o, e guarda-o! Ele é teu. Será, decerto,
O meu canto de Cisne. Canto-o e morro!
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O ÚLTIMO PORTO
A Nehemias Gueiros
Porto do Desencanto. Cais do tédio.
Calmaria. Abandono. Solidão.
(A quem dizer meu último epicédio
A quem fazer minha última canção)
Depois de tanto malogrado assédio
a naus esquivas que bem longe vão,
– este ancorar soturno, e sem remédio,
do velho brigue que é meu coração…
meu navio-pirata doutros dias,
velas colhidas – que de nostalgias
nessa langue modorra junto aos cais!
Ontem Mar alto… expedições bizarras…
Hoje (é inútil que tremas nas amarras)
a solidão… a bruma… o nunca-mais!…
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SALOMÉ TODA DE VERDE...
O teu vestido verde, esse vestido
com que te vi domingo, na novena,
não condiz bem com tua tez morena..
Não o uses mais! Atende a este pedido
Tu, que és somente Malvadez e Olvido
e tens no peito um coração de hiena,
olha que esse vestido te condena
e é, no teu corpo, um símbolo traído!
Guarda o vestido verde… ou não te zangue
o que te imploro aqui, flor das ingratas:
muda-lhe a cor… embebe-o no meu sangue!
Sou teu São João, ó Salomé sem dança!
mas, se – morena e má – rindo me matas,
não me mates vestida de esperança!…
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POEMA DO FREVO
A Cidade, cedo, vira camarada,
vem toda para rua, […]
toda alvoroçada,
toda colorida,
sem pensar na crise,
sem pensar na vida,
sem pensar em nada…
vem toda para a rua vibrante, enfustecida
saracoteante.
vibrar,
delirar…
E a farsa burguesa dos vãos preconceitos
Visíveis e estreitos
– Olé !-
de logo é esquecida, anulada, vaiada em tumulto […]
isto é,
o estalido orgulho, a vã fatuidade,
toda a austeridade
da burguesia
de pronto se desfazem em louca alegria
– EVOÉ! EVOÉ! –
e haja liberdade,
e haja intimidade,
a larga, a vontade…
Que promiscuidade!
Que democracia!
Carnavalesca Cidade!
Paraíso da Folia!…
FOLIA!
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