terça-feira, 18 de janeiro de 2022

SEIOS - Domingos Paes Barreto Cardoso

 

I
Seios que vivem, tímidos, pulsando
Num transparente cárcere de renda,
Ocultos e medrosos, evitando
De cúpidos olhares oferenda;

Seios que dentro do resguardo brando
Livres estão que seu primor acenda
Ou possa despertar, de quando em quando,
Libertino apetite que os ofenda;

Seios, flores de carne olente e nua,
Cujos botões são leves pinceladas
De tinta do sol poente sobre a lua;

Seios, fonte de sonhos e desejos,
Seios de noivas puras, consagradas
A porvindouros festivais de beijos.
......
II
Seios gentis, macios e perversos,
Das delícias do amor gêmeos emblemas,
Que provocam a licença dos meus versos
E inspiram aos vates, imortais poemas!

Que lindos são quando enrilham tersos,
Como brilhantes, cristalinas gemas
Ou se amolentam em apatia imersos,
A alma cismando em passionais problemas!

São frutos de um pomar cheiroso e belo,
São dois pajens irmãos cantando amor,
Debruçados na ameia de um castelo;

Eflúvios de luar cristalizados
Onde o sol imprimiu, ciumento, a cor
Dos soberbos mamilos nacarados.
......
III
Pulcros assim, tão pulcros e escorreitos,
Os seios que celebro, muito embora
Sejam de arte um ideal, dos mais perfeitos,
Que de plasmá-los o artista se alcandora.

Sinto que eles não vivem satisfeitos
Na grave abstinência que os devora.
Querem sair dos cárceres estreitos,
Sequiosos de luz, tontos de aurora.

Antegostam prazeres ignorados,
Adivinham a quadra apetecida
De mistérios profundos e sagrados,

Um tempo a vir, e em que, formosa idade,
Não provocam paixões, porém dão vida
Sacrificados à maternidade.

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