segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

DOIS POEMAS – Gabriel Souza Diniz

 

ORATÓRIA

No princípio, tudo é verbo.
Verbetes de promessas ocas.
Bastonetes de um equilibrista
instável em quimeras insaciáveis.
Sonhos loucos transformam-se em verossímil
realidade, intensa ainda que confusa,
faz-se verdade numa nuvem torpe e difusa.
A difusão dos gases quentes em gemido ardentes.
Muitos são os dentes.
Ela goza, assim como eu. Suados e desfalecidos.
O pulsante escorrega para fora da inchada.
Tudo melado. Melaço de cana.
Melada é a cama.

No princípio, é tudo verbo.
Manipulação da língua vernácula.
Sexo oral. Orgasmo sem mácula.
.........
FANTASIA NO INTERIOR DE SÃO PAULO

Vieste com Chernobil.
Em tenra infância, brilhante.
Antes que Ayrton partisse,
Chegou a minha vez.
Cheguei em 1993.
Passaram-se os anos e nos encontramos.
Era uma noite iluminada
pela radiação de um bar.
No brilhantismo dos vícios.
Montado em tua nuvem cogumelo,
Subi aos céus em escadas de orgasmo
E, em um lençol de Ribeirão,
Dormimos suados.
Palestra, eu era como Lampião:
Feito de carne, mas com punhos de aço.
Contudo, não só o coração,
Desintegraras-me em 1986 pedaços.

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