quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

POEMAS de Robert Frost

 

DENTRO DE MIM
Tradução de Ana Cristina Gambarotto
...
O meu desejo é que essa selva escura,
tão fixa que a brisa mal a mistura,
não fosse a mera máscara das trevas,
mas se estendesse até o fim das eras.

E no dia em que não me deterão,
fugirei furtivo na vastidão,
sem temer jamais encontrar clareira,
ou estrada onde a roda deita a areia.

Não vejo motivos para retornar,
ou para que os saudosos ao meu lugar
não me sigam, nem me alcancem a trilha
curiosos se inda os tenho em alta estima.

Eles não me encontrarão diferente –
só mais seguro do que trago em mente.
......
PARANDO NA MATA NUMA NOITE DE NEVE
Tradução de Marcus Vinicius de Freitas
......
O dono dessa mata que vejo,
acho que mora além, no vilarejo,
e não me verá aqui parado
na mata, olhando a neve em cortejo.

Meu cavalo acha estranho e inusitado
parar assim sem casa ao lado
entre o lago duro e o desterro
no meio do escuro mais fechado.

Ele balança o seu cincerro
e me pergunta se há algum erro.
Só se ouve o vento a zunir
E os flocos caindo num aterro.

A mata é imensa, adorável treva a me sorrir,
mas eu tenho promessas a cumprir,
e muitas milhas antes de dormir,
e muitas milhas antes de dormir.
......
REMENDANDO O MURO
Tradução de Gabriel Reis Martins
......
Aqui há algo que não quer o muro,
o que estende sob ele o solo engelhado e frio,
e tomba seus altos seixos sob o sol,
e faz as fendas nas quais até dois passam juntos.
O trabalho dos caçadores é o outro tombo:
depois dele é que vim e remendei,
onde eles não deixaram pedra sobre pedra,
pois quiseram os coelhos sem toca,
para agradar seus cães bravios.
Já as fendas, acredito, ninguém as viu,
tampouco as ouviu, sendo feitas.
Mas chega à primavera o tempo
de remendar, e as vemos todas.
Deixo que disso saiba o vizinho de além do morro,
e, chegado um novo dia, juntamos,
marcando em marcha aquela linha, firmando
mais uma vez o que nos separa.
Mantemos o muro entre nós enquanto isso,
seixo-a-seixo, tombados deste e daquele lado,
para que nós dois lancemos
mão da mescla do disforme conforme
preservamos com encanto o equilíbrio:
– Fiquem aí, até darmos as costas!
Os dedos calejam com tal manuseio,
nessa disputa campestre:
cada um de seu lado. E vai além:
– Daí onde está não queremos cercas:
aí, onde você é pinheiro, e aqui, onde sou pomar
de macieiras. Estas nunca cruzam para além
do limite para comer as pinhas sob o pinhal, digo-lhe.
E ele responde apenas:
– grandes cercas fazem grandes vizinhos.
A primavera me dá essa injúria, e me pergunto
se poderia meter juízo na cabeça dele:
“por que nos fariam boas companhias? Não é assim
lá onde existe gado? Mas aqui já não há gado”.
Após cercar a terra eu quis saber o que estava
daqui e o que estava dali, e a quem pude afetar.
Aqui há algo que não quer o muro, que o quer
abaixo. Diria a ele que são Duendes,
mas não duendes de verdade, e eu preferiria
que ele descobrisse “o quê” por si só. Vejo-o
ali, firmando pedras, feito um bárbaro armado
com rocha, alçada a duas mãos.
Move-se no breu – ao que me parece –
que não é o dos bosques e das sombras das árvores.
Não seguirá para além das palavras de seu pai,
e, tendo tanto as pensado como boa sina,
diz de novo:
– grandes cercas fazem grandes vizinhos.

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