sábado, 20 de novembro de 2021

MINHA CONDIÇÃO – Mel Duarte

 

Eu não escrevo pra incendiar casas
mas pra ascender faíscas aos olhos de quem me lê
não escrevo pra matar a fome de multidões
mas espero que minhas palavras
preencham um vazio que te ajude a se manter de pé
não escrevo pra governar um povo
eu ouço o que ele diz e utilizo minha voz
para propagar sua mensagem
não escrevo pra obter a sua aprovação
mas pra registrar minha trajetória
e de tantas mulheres negras que já foram silenciadas.

Eu escrevo pra acessar lugares em mim
que são invisíveis aos olhos
pra expurgar pensamentos que não me deixam dormir
escrevo, pois, cada palavra
é um atestado da minha condição poeta
e sendo poeta, ainda miúda que sou
escrevo porque a palavra é o que me resta

Num mundo conduzido por falsos profetas
nessa briga de egos e dialética
me apego num sopro de esperança
que me permite o papel e a caneta

Escrevo pra sobreviver
e sobrevivendo eu luto
escrevo se adoeço
e escrevendo me curo

E você? Pra quê escreve?

E pra onde você escorre,
quando esse mar palavra transborda?

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