domingo, 28 de novembro de 2021

ITINERÁRIO DA SOLIDÃO – Clotilde Tavares

Domestico a angústia,
Corto delicadas fatias de solidão para o jantar,
gelo o vinho,
escolho as taças,
acendo as velas.

O meu quarto tem bandeiras.
Caíram todos os vestidos dos cabides.
O gelo derrete.
O telefone tocou: foi engano.

Deixo atrás de mim portas abertas,
tomo táxis,
invado bares,
provo garrafas
e bebo bocas incandescentes
de álcool
e dentes.

Em algum lugar do mundo
espero a madrugada
e meu corpo sangra
duro e tinto
um poema.

De volta à casa
toco de leve os móveis.
Fecho as portas,
leio os classificados,
atraso os relógios.
Alimento a medusa
e para mim frito cebolas.

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