sexta-feira, 19 de novembro de 2021

A RAINHA ESTÁ MORTA – Marianna Perna

 

Sem luz nos olhos, jaz a vida
rasgando os veios do futuro
que se fez agonia pura, abortada.

Quantos homens não nos pisotearam
terra compactada, sem oxigênio

séculos
e mais séculos
de bruços.

Arrancadas as raízes.
Apenas o mal era em nós reconhecido.
E suprimido.

A história é suja por demais

Sangrenta.

Areia, sangue, açúcar e vapor.
Porque terra já nem bem há mais.
Apenas o peso da
Memória.

Dos confins esta memória chega
se faz viva e seca

Assombra-nos.

Pois a história continua a mesma.

Os mesmos ímpetos, os mesmos rostos
os mesmos ferimentos
campos vermelhos,
apenas o disfarce é maior.

E se fez menor uso da voz humana.

Em vão se acendem muitas velas,
para “afastar o mal”.
A corrente permanece, ao lado do punhal.
Criado mudo de ferro e chicotes.

E uma legião de deformados invisíveis paira.

Pois, afinal, não foram todos paridos
por uma mulher?

Nenhum comentário:

Postar um comentário