quarta-feira, 10 de novembro de 2021

BELEZA – Rafael Rocha

 

No dia em que eu beijar a boca da beleza
o rio da terra trará forte correnteza
com enormes ondas indo ao estuário.
E eu e ela estaremos lado a lado
no cio úmido e gostoso do pecado:
– Dois peixes fazendo amor em um aquário!

Direi: – Adorada, sou um desordeiro
vindo em maléfico corcel, eu, cavaleiro
desejo usufruir dos teus lauréis!
Ela dirá: – Que seja assim e tanto!
Cubra meu corpo com esse acalanto
e pinte nele com todos teus pincéis!

Nesses lisérgicos e sativos delírios
vi as rosas se transformando em lírios
como tentando enfeitar ventres ateus.
E ela, rindo, trouxe à luz a zombaria.
Entre trejeitos eróticos, dizia:
– Tente ao menos rezar para algum deus!

Após capturar o seu beijo de beleza
o rio deixou de fluir em correnteza
e de fazer ondas no vasto oceano.
O dia trouxe um sol à ampla festa
e na noite quente uma orquestra
tocou aquele inesquecível tango.

Ei-la: a musa mais que amada
a deslizar voando como uma fada
dentro e fora das minhas realidades.
Mulher e amante! A deusa de meus dias!
Criadora de intensas fantasias!
Ventre macio onde sorvo umidades!

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