domingo, 21 de novembro de 2021

COMO SE APRISIONA UM RIO PARA SI – Antônio Carlos Floriano

 

como se aprisiona um rio para si
não há moirões na água
arame para circular uma cidade

apenas um poço de nuvens
engolidos nos mergulhos
nas voltas infindáveis da geografia

onde encontrar o calor dos outonos
as sombras desvanecidas
a pouca cor dos trapiches adernados

como amarrar um navio fosse um bicho
segurá-lo na corrente contra o terral
se a noite se esconde na luz do farol

se a noite sussurra nas tralhas das redes
a solidão dos beliches sem ar
da tinta envenenada manchada de mar

que se tome um banho de água doce
para prender o rio sob a pele do rosto
se tirar das mãos as escamas das unhas

para se prender o rio na memória do poema
feito um navio na geografia da cidade
é preciso inventar um mapa no coração

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