Nos altos cerros erguido
 Ninho d'águias atrevido,
 Salve! – País do bandido!
 Salve! – Pátria do jaguar!
 Verde serra onde os palmares
 – Como indianos cocares –
 No azul dos columbos ares
 Desfraldam-se em mole arfar! ...
 
 Salve! Região dos valentes
 Onde os ecos estridentes
 Mandam aos plainos trementes
 Os gritos do caçador!
 E ao longe os latidos soam...
 E as trompas da caça atroam...
 E os corvos negros revoam
 Sobre o campo abrasador! ...
 
 Palmares! A ti meu grito!
 A ti, barca de granito,
 Que no soçobro infinito
 Abriste a vela ao trovão.
 E provocaste a rajada,
 Solta a flâmula agitada
 Aos uivos da marujada
 Nas ondas da escravidão!
 
 De bravos soberbo estádio,
 Das liberdades paládio,
 Pegaste o punho do gládio,
 E olhaste rindo pra o val:
 "Descei de cada horizonte...
 Senhores! Eis-me de fronte!"
 E riste... O riso de um monte!
 E a ironia... de um chacal!...
 
 Cantem eunucos devassos
 Dos reis os marmóreos paços;
 E beijem os férreos laços,
 Que não ousam sacudir...
 Eu canto a beleza tua,
 Caçadora seminua!...
 Em cuja perna flutua
 Ruiva a pele de um tapir.
 
 Crioula! o teu seio escuro
 Nunca deste ao beijo impuro!
 Luzidio, firme, duro,
 Guardaste pra um nobre amor.
 Negra Diana selvagem,
 Que escutas sob a ramagem
 As vozes – que traz a aragem
 Do teu rijo caçador!...
 
 Salve, Amazona guerreira!
 Que nas rochas da clareira,
 – Aos urros da cachoeira –
 Sabes bater e lutar...
 Salve! – nos cerros erguido –
 Ninho, onde em sono atrevido,
 Dorme o condor... e o bandido!...
 A liberdade... e o jaguar!

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