Lautero era
uma flecha delgada
elástico e
azul foi o nosso pai.
Foi sua
primeira idade só silêncio.
Sua
adolescência foi domínio.
Sua juventude
foi um vento dirigido.
Preparou-se
como uma longa lança.
Acostumou os
pés nas cachoeiras.
Educou a
cabeça nos espinhos.
Executou as
provas do guanaco.
Viveu pelos
covis da neve.
Espreitou as
águia comendo.
Arranhou os
segredos no penhasco.
Entreteve as
pétalas do fogo.
Amamentou-se
da primavera fria.
Queimou-se
nas gargantas infernais.
Foi caçador
entre as aves cruéis.
Tingiram-se
de vitória as suas mãos.
Leu as
agressões da noite.
Amparou o
desmoronamento do enxofre.
Se fez
velocidade, luz repentina.
Tomou as
vagarezas do outono.
Trabalhou nas
guaridas invisíveis.
Dormiu sobre
os lençóis da nevasca.
Igualou-se à
conduta das flechas.
Bebeu o
sangue agreste dos caminhos.
Arrebatou o
tesouro das ondas.
Se fez
ameaça como um deus sombrio
Comeu em cada cozinha de seu povo.
Aprendeu o
alfabeto do relâmpago.
Farejou as
cinzas espalhadas.
Envolveu o
coração de peles negras.
Decifrou o
frio espiral do fumo.
Construiu-se
de fibra, taciturno.
Azeitou-se
como a alma da azeitona.
Fez-se
cristal de transparência dura.
Estudou para
vento furacão.
Combateu-se até
apagar o sangue.
E só então
foi digno de seu povo.
(*) A
Educação do Cacique poema copiado do livro “Canto Geral”,
do poeta Pablo Neruda (1904-1973),
tradução de Paulo Mendes Campos.
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