domingo, 2 de julho de 2017

DOIS SONETOS DE ANTÔNIO MENDES MARTINS



(Poeta pernambucano do Recife dos fins do Século XIX e início do Século XX, praticamente desconhecido do público leitor)


UM CORAÇÃO

Conheço um coração que vive do passado
Não esquece um momento o que era antigamente,
E de um tédio imortal, num cárcere fechado,
Não sabe se está vivo ou morto no presente.

E vai seguindo assim, sozinho e indiferente,
A tudo em que repousa o seu olhar magoado...
E, olhando para trás, não vê, na sua frente,
Do futuro distante o abismo escancarado.

E para esse futuro é que ele vai, no entanto...
O passado finou-se e envolve a escuridade.
Que é de tudo que morre o verdadeiro manto...

E o triste, mundo em fora, aos trancos, erradio,
Caminha sem saber, talvez, que esta saudade
É um círio iluminando um féretro vazio.
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AMOR PASSADO

Por essa mesma estrada em que nós dois, outrora,
Cheios de mútuo afeto, andamos tão sozinhos,
Por essa mesma estrada, andas com outro, agora,
Ouvindo, no arvoredo, a música dos ninhos.

É o mesmo firmamento, e os mesmos passarinhos
Saúdam, gorjeando, o alvorecer da aurora...
Brilha do mesmo modo a areia dos caminhos
Que a mesma primavera exuberante enflora.

Do lago azul do céu na superfície, a lua
Serena e majestosa, ainda hoje flutua
Como um barco dourado e que não teme escolhos...

Tudo está como estava... Unicamente, ingrata.
Outro homem, que não eu, agora se retrata
No pálido cristal do espelho dos teus olhos.

2 comentários:

  1. Gostei muito. Aos poetas vivos o meu abraço
    pela v/sensibilidade. Aos mortos dizer-lhes
    que a sua poesia é imortal.
    Irene Alves

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  2. É este o mesmo poeta que escreveu o soneto "Olhos"? Grato pela atenção

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