(Poeta pernambucano do Recife dos fins do Século XIX e início do Século XX, praticamente desconhecido do público leitor)
UM CORAÇÃO
Conheço um coração que vive do passado
Não esquece um momento o que era antigamente,
E de um tédio imortal, num cárcere fechado,
Não sabe se está vivo ou morto no presente.
E vai seguindo assim, sozinho e indiferente,
A tudo em que repousa o seu olhar magoado...
E, olhando para trás, não vê, na sua frente,
Do futuro distante o abismo escancarado.
E para esse futuro é que ele vai, no entanto...
O passado finou-se e envolve a escuridade.
Que é de tudo que morre o verdadeiro manto...
E o triste, mundo em fora, aos trancos, erradio,
Caminha sem saber, talvez, que esta saudade
É um círio iluminando um féretro vazio.
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AMOR PASSADO
Por essa mesma estrada em que nós dois, outrora,
Cheios de mútuo afeto, andamos tão sozinhos,
Por essa mesma estrada, andas com outro, agora,
Ouvindo, no arvoredo, a música dos ninhos.
É o mesmo firmamento, e os mesmos passarinhos
Saúdam, gorjeando, o alvorecer da aurora...
Brilha do mesmo modo a areia dos caminhos
Que a mesma primavera exuberante enflora.
Do lago azul do céu na superfície, a lua
Serena e majestosa, ainda hoje flutua
Como um barco dourado e que não teme escolhos...
Tudo está como estava... Unicamente, ingrata.
Outro homem, que não eu, agora se retrata
No pálido cristal do espelho dos teus olhos.
Gostei muito. Aos poetas vivos o meu abraço
ResponderExcluirpela v/sensibilidade. Aos mortos dizer-lhes
que a sua poesia é imortal.
Irene Alves
É este o mesmo poeta que escreveu o soneto "Olhos"? Grato pela atenção
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