segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

BENDITOS - Isabel Machado

 

Abençoados os que possuem amigos
os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos

os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos

os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade

ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos

de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

POESIAS de Fernanda Benevides

 

ENCONTRO E DESENCONTRO

Eis que encontrei o Pequeno Príncipe
ao longo do caminho.
Empreendia, obstinado,
tarefa árdua e delicada.
Recuperava um jardim abatido pela tempestade.
Cultivava flores mutiladas.
Rosas despedaçadas...
Especialmente,
cuidava de uma roseira que não brotava.
Sempre que despontava o botão,
o vento o queimava.
Ele insistia.
Extirpava os baobás que se insurgiam.
E recomeçava.
Com o decorrer do tempo,
o arbusto se fortalecia.
Crescia com a magia do seu carinho.
A planta tornou-se viçosa.
A rosa preparava-se.
Sonhava abrir-se em suas mãos tenazes.
Queria dar-se-lhe.
Florir em seu coração.
Mas, o principezinho relutava.
E refutava-a.
Almejava vê-la sarada.
Era tudo que desejava.
Não obstante,
a rosa o amava.
Precisava de seu amor para viver.
Sem ele, não existia.
E chorava. Sofria.
Por sua vez, ele padecia.
Não gostava de magoá-la
e o fazia.
A rosa sangrava.
Doía.
Desejava-o e o queria.
Entretanto,
ele balançava-se,
mas não cedia.
Gostaria de vê-la liberta,
a germinar sozinha.
Hoje,
a rosa está pronta e sorri.
Longe do Colibri.
.....................................
CAÇADOR DO INVISÍVEL

O Poeta é caçador do invisível.
Vê o que não se ver.
Enxerga o que não se encontra.
Descobre o que n ao se sabe.
E sabe o que não se conhece.

Vai além do horizonte.
Colhe o arco-íris.
E espalha suas cores
Sobre as cicatrizes.

O Poeta é caçador do invisível.
Colhe o essencial do intangível.

Baila no Infinito.
Embaralha as estrelas.
E decifra-as com outros códigos.
Outras cifras.

O Poeta é caçador do invisível.
Busca o que não se encontra.
E encontra o que não se procura.
Recria e nomeia o indizível.

E vai além, onde não se alcança.
Cheio de Esperanças.
E traz a menina de tranças.
Ou, o menino que se embalança.

O Poeta é caçador do invisível.
Realiza façanhas incríveis.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

METÁFORA DO APOCALIPSE – Eliana Mora

 

Para quem pensa que os deuses
ainda estão preparando algum sermão
para quem reza todo dia
se ajoelha por perdão a seus pecados
antes mesmo de os cometer
[sequer sonhar]
para quem teme e somente se alivia
com muita privação
[e com muita hipocrisia]
Para quem prevê um acontecimento
para quem lembra que a Bíblia
falou em Apocalipse
alguma coisa que seria
nos anos dois mil
[e Nostradamus também anteviu]

E tal e qual para
quem acha que nada está errado
que o mundo virou apenas do outro lado
porém que ao segurar com jeito
ele não cai
só entorta um pouco
[já existe uma torre com defeito]

Nada de temer de se humilhar
de se punir
nada de verter crocodilos
pelos olhos
[e de pensar Oh como antes era bom]
nada de esperar acontecimentos
estrambólicos
como fogo furacão
ou terremoto
águas portentosas
ou volúpia de vulcão

Por que o homem
esse amor de criatura
[ele mesmo]
conseguiu concluir tudo a seu jeito
e para tal estratégia perpetrar
nem precisou de seu deus
sua fé ou devoção
nem sequer de se vergar
a algum preceito

O que mais se alardeava
já chegou
e chegou deixando alguns avisos
que eles [os homens]
não quiseram ver
por detrás de seus óculos de
fundo de garrafa
do interesse pessoal
e do Poder

Chegou o Apocalipse
antes da hora
em que tantos magos e videntes
se inspiraram
ou encheram suas burras de dinheiro
daqueles que só temem o castigo
[ou mesmo de profanos]
todos à cata de um espaço
no cargueiro

Chegou a hora sim
meu companheiro
a metáfora do Fim já está aí
o mundo definha como fruto murcho
e atônitos nos deparamos
a constatar a preocupação geral
com gravatas relatórios
e charutos

E com nada acontecendo
de isolado
está tudo meio doido
atrapalhado
ao mesmo tempo sob controle
do Global
e ao mesmo tempo
por demais descontrolado

Como se o momento da implosão
fosse avançando
e uma ilha pendurada
em lindos sonhos de cristal
fosse ficando a meio pique
perdendo seu rumo
para juntar-se às garrafas
que flutuam
na imensidão de um
azul celestial

[Quem iria adivinhar
o Homem
assim obediente
a uma cisma milenar?]