segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

DOIS POEMAS de Bruna Beber

 

MOLHAR AS PLANTAS

tudo tem barulho de mar
enceradeira isopor carro
em movimento aerossol
espirro pistola moeda

telha bombardeio cigarro
queimando pia degradê
cãimbra inseto monge
sua vizinha o futuro

tem barulho de mar
na camiseta no quadro
chinelo aeroporto gaiola
panela caverna birita

beijo tem biblioteca
também um curió bola
de chiclete sobretudo
um dinossauro alado

tem mar de todo tipo
de barulho e dentro
de cada mar um ralo
entupido de cabelos.
......
FESTA

e então me vejo resumida a um jogo
de peças de dominó enfileiradas
no centro da sala

ao primeiro toque posso desmoronar
e desmorono, velozmente, 28 retângulos
de madeira caem lânguidos

pleqpleqpleqpleqpleqpleqpleqpleqpleq
uns por cima dos outros e todos ao chão
amontoados como corpos

e ao toque de cada peça sobre cada peça
um foguete colorido sobe ao céu
e tudo que é meu sobe junto

um espetáculo de vinte e oito foguetes
coloridos para os que olham
o céu neste momento

eu não olho, tenho algo mais importante
para ver, mas estou cego de repente,
a luz se esfarela, onde estou?

consigo medir o estrondo do acontecimento
pelo silêncio do instante que precedeu
a queda das peças

é deste tamanho
a mágica de um segundo valeu
o tempo do enfileiramento

é possível medir o choque do acontecimento
pelo pouco volume em minha voz
o resto não meço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário