terça-feira, 31 de agosto de 2021

BAILADO - Novo livro do poeta Rafael Rocha

 

PREFÁCIO DO POETA VALDECI FERRAZ - RECIFE/PE

Como posso definir este BAILADO do meu amigo Rafael Rocha?
O que eu sei é que este poema é uma dança em um determinado tempo na vida do poeta, seguindo os sons dos seus amigos e camaradas, dos familiares, dos irmãos e das irmãs, da sua mulher amada e de tantas outras e outros que passaram por sua existência.
Neste seu muito especial trabalho poético, Rafael dança e faz o mundo ao seu redor dançar em um bailado vertiginoso e incomum.
A construção do poema mostra isso: "Un allegro. Une arabesque. Un adagio. Un temps levé. Une pirouette". Um mergulho. Um salto longo. Um passo para frente. Outro para trás. Um rodopio.
O poeta baila acompanhado por fatos e seres humanos. Cria uma coreografia especial e faz o leitor sentir os ritmos nascidos dentro, fora e através de cada página.
Ele deixa o medo de lado. Deixa a timidez de lado. Deixa a insegurança longe e mostra o bailado de uma época toda sua e também nossa.
Por ser um poeta-personagem, Rafael gosta de se expor em toda sua humanidade, fazendo ligação direta com as mais diversas pessoas que estiveram ao seu redor nesse tempo. Não apenas eu, mas todos os seres humanos que naqueles distantes meses de julho e agosto do ano de 1982 viveram lado a lado com ele.
Seus bailarinos coadjuvantes.
Seus dançarinos anônimos e não anônimos.
Sempre pedi, quase que diariamente, ao poeta Rafael Rocha – amigo leal, confidente e cúmplice literário – que divulgasse este poema. Ele é seu autorretrato em um tempo. Mas isso é com o poeta. Ele pode estar recriando nos dias atuais uma nova coreografia em sua dança, talvez para que possamos ter a chance de bailar melhor dentro das nossas.
Um dia (quem sabe?) esse BAILADO deverá alcançar páginas mais duradouras do que as escritas por Rafael em folhas de papel pautado no distante ano de 1982. Tive o privilégio – logo que o poema acabou de ser escrito – de ser o primeiro a ler e a usufruir dele.
Tenho certeza, sim: essa dança vai se encaixar, ser entendida e se personalizar dentro de muitas outras pessoas. Que elas entrem no ritmo. Com urgência!
Hoje, Rafael dança por aqui e eu danço por ali, e, às vezes, dançamos perto um do outro. Um dia, os nossos bailados irão se misturar a todos os demais bailados, no momento em que começarmos a dançar na imensidão do infinito.
Por enquanto, vamos viver, amar, cantar e dançar! Vale a pena tudo isso!

Valdeci Ferraz - Recife, 5 de maio de 2010

TRÊS POEMAS – James Joyce

 

Tradução de Eric Ponty
...............
POEMA I

Cordas na terra e ar,
Fazem doce música.
Cordas pelo rio onde
salgueiros se encontram.
Há música ao longo do rio,
para viagens de amor,
Flores pálidas o cobrem,
folhas escuras nos ramos.
Tocam suavemente tudo,
inclinando-se sobre música,
e dedos vagueiam,
sobre o instrumento...
...................
POEMA III

Naquele instante quando todas as coisas param,
O desolado observador solitário está nos céus,
você ouve o vento noturno e seus suspiros,
de harpas que tangem até amor se reunir
nos pálidos portões do êxtase??
Quando todas as coisas pararem, e ficarem sós
acorda para ouvir o doce tanger das harpas,
para amar.
E o vento noturno, responde em antífona,
Até que esta noite termine?
Tangem, as harpas invisíveis, até mesmo no amor,
o céu se fez incandescente,
naquele instante quando luzes brandas vêm e vão,
há uma doce música suave no ar
sobre a terra fica embaixo.
.............
POEMA XXXIV

Durma agora, durma agora
fala meu inquieto coração
a voz chora: "durma agora"
É se faz ouvir no meu coração.

A voz do vento
se ouve na porta
Oh durma, para esperar a primavera
que está chorando: "Durma agora".

Meu beijo trará a paz
E aquietará o coração
Durma agora em paz.
Oh inquieto coração.

O PARDAL SOLITÁRIO – Giacomo Leopardi

 

Tradução de Ivan Junqueira
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Do alto da torre antiga,
pardal solitário, pela campanha
tu vais cantando até que morre o dia;
e que doçura perpassa neste vale.
A primavera
brilha no ar, e pelo campo tudo exulta
e, ao vê-la, o coração se enternece.

Balem ovelhas e mugem rebanhos;
todos os rumores se confundem
nesta revoada de mil pássaros pelo céu aberto,
enquanto eles festejam o seu melhor tempo,
tu, pardal solitário, a tudo vês;
não tens companhia, nem voas
com eles e foges aos divertimentos;
e assim cantando, sozinho,
gastas a tua melhor idade.

Oh! como se parece com a tua
esta minha vida! Alegrias e risos,
desde os primeiros anos na doce família:
suspiro duro dos dias maduros
e eu não os conheço,
porque deles me distancio,
como se deles fugisse.
Quase solitário,
e estranho
vivo sozinho a minha primavera.

Este dia, que está morrendo
costuma ser festejado no meu rincão nativo
Tu ouves pelo céu sons de campanários,
e de vez em quando o troar dos morteiros,
que ribombam longe de vila em vila.

Todos vestidos de gala,
os moços da minha aldeia,
vem à rua alegremente:
para ver e serem vistos.
Eu permaneço solitário nesta
remota parte do campo e protelo
para outro tempo todo o prazer.

E enquanto olho o céu,
após o dia sereno,
o sol cai entre longínquos montes
e, caindo, se desfaz e parece dizer
que a linda mocidade está desaparecendo.

Tu, solitário pássaro, na noite
do viver que te darão as estrelas,
certo de teu costume
nada estranharás, pois é a própria natureza
que palpita nos teus voos.
Quanto a mim, se não puder evitar
o marco tenebroso da velhice
o detestado limiar
evitar não posso,
e forem mudos aos outros
os meus olhos, e para este
for vazio o mundo,
e o amanhã mais triste do que o ontem
que será de tal desejo?
Que será destes meus anos? Que será de mim mesmo?
Ah!, quantas vezes, arrependido
e desconsolado, eu não olharei para trás!