terça-feira, 22 de outubro de 2019

O CAVALEIRO POBRE - Alexander Pushkin

Tradução de Olavo Bilac

Ninguém soube quem era o Cavaleiro Pobre,
         Que viveu solitário, e morreu sem falar:
Era simples e sóbrio, era valente e nobre,
                   E pálido como o luar.

Antes de se entregar às fadigas da guerra,
Dizem que um dia viu qualquer cousa do céu:
E achou tudo vazio... e pareceu-lhe a terra
                   Um vasto e inútil mausoléu.

Deste então, uma atroz devoradora chama
         Calcinou-lhe o desejo, e o reduziu a pó.
E nunca mais o Pobre olhou uma só dama,
— Nem uma só! nem uma só!

Conservou, desde então, a viseira abaixada:
E, fiel à Visão, e ao seu amor fiel,
Trazia uma inscrição de três letras, gravada
                   A fogo e sangue no broquel.

Foi aos prélios da Fé. Na Palestina, quando,
No ardor do seu guerreiro e piedoso mister,
Cada filho da Cruz se batia, invocando
                   Um nome caro de mulher.

Ele rouco, brandindo o pique no ar, clamava:
Lumen coeli Regina! e, ao clamor dessa voz,
Nas hostes dos incréus como uma tromba entrava,
Irresistível e feroz.

Mil vezes sem morrer viu a morte de perto,
E negou-lhe o destino outra vida melhor:
Foi viver no deserto... E era imenso o deserto!
                    Mas o seu Sonho era maior!

E um dia, a se estorcer, aos saltos, desgrenhado,
         Louco, velho, feroz, — naquela solidão
         Morreu: — mudo, rilhando os dentes, devorado
         Pelo seu próprio coração.

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