DOIS POEMAS - Pedro Paulo de Sena Madureira

 

AS PALAVRAS QUEREM ROMPER

As palavras querem romper
as amarras do poema.
Recusam-se a guardar o silencio
que entre o meu e o teu olhar
se lê.

Nada a fazer.

As palavras se anulam

na memória.

Poesia:

luz que não se vê.

Mas o amor,
ei-lo: é o sonho
de uma página
entre nós
para sempre vazia.
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VOZ DA TREVA

foz sem rio
praias amordaçadas
espumas imóveis
ferrugem nas pálpebras

Clausuras no ar
gritos desmantelados
corpos atônitos
línguas turvas
cavalos - nuvens? -
palavras e dúvidas

Armaduras
espectros condecorados
espadas atarefadas

O resto -
ferro e ossos