domingo, 22 de agosto de 2021

TEMPO DE ESTÁTUAS – César de Araújo

 

Milhares de estátuas ocupam as cidades
– incrível população!
Somente numa praça
Estáticas, posadas
mil estátuas marciais.

Nas casas de comércio, de cultura
palácios, templos, hospitais
estátuas, sim, estátuas
sem os rústicos cuidados manuais
destituídas de engenho e arte.

Ruas inteiras congestionadas
metrópoles, países.
Cordilheiras de estátuas pesadíssimas
ora de ouro e prata fabricadas
estátuas de cristal:
proliferam demais

(As estátuas se formam nos espelhos.)
Espantalhos de pedra mantidos
para medrar as flores.
Não se transita mais
senão entre rochedos.
Este Planeta vai rachar
de tanta penedia.

Observem Conselhos
Ordens, doutos
cátedras, os Júris.
Há estátuas falando, aplaudindo.
Nomeiam-se estátuas.

Atenção para os conceitos de granito:
– defendem-se em carne!
A essência dos deuses, carne apenas.

Reúnem-se estátuas todo dia.
Existem comissões formadas só de rochas.
Há estátuas de elite planejando.

Metamorfose tristíssima de ontem:
Um artista virou também.
E as últimas notícias dão-nos conta
que uma senhora queria parir pedras.

Está difícil encontrar um homem.
Não se conversa há tempo sobre ossos.
O grito é som antigo:
Sombria peça de museu da História.
O pranto: uma loucura.
Por não se ver sangrar o coração
sabe-se de memória só
vermelho o sangue.

Quanto ao Âmago do Homem
– Espírito ou Ser –
dizem estátuas
que são coisas mortas.

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