RELEMBRANÇAS
Domingo. Noite calma. Um piston em surdina
me traz evocações. Na varanda ensombrada,
eu mergulho no tempo, e o quadro me fascina:
perdidos na distância, uns longes de alvorada.
Em tomo à mesa, ali, conversas de rotina,
logo após o jantar. Bate-papo e mais nada.
E eu retorno à varanda, o olhar na chuva fina
e o pensamento longe, alma enfim deslumbrada.
Daqui deste edifício, entre instantâneos vários,
suponho ver no mar, e com os mesmos ardis,
nos veleiros de outrora, os antigos corsários.
Recordo, neste ensejo, ilhado em São Luís,
meus Pais, irmãos, Madrinha, a Escola, meus canários...
Taperoá, de antanho, em cenas infantis.
.............................................
OUTONO
Quando a velhice chega, a vida perde a graça.
Vêm o tédio, o silêncio, o queixume, o abandono.
Sempre há de ser assim. Pelo tempo o homem passa,
na luta pela vida, a mergulhar no outono.
E (se não fosse Deus!) que dizer da carcaça
(sem alma) dos mortais, possíveis cães sem dono?
Materialista e ateu, o ancião se desengraça
de todos e de tudo, e, inda mais, perde o sono.
Como é bom ser cristão! A gente continua
a viver sempre bem, otimista, feliz,
sem queixumes, ao sol, sem pedradas na lua.
Sem Eva para Adão, que seria do mundo?
Da argila para a vida (a História no-lo diz),
houve o sopro divino, infinito, fecundo.
......................................................
MAMÃE
É quase noite, Não encontro abrigo.
O mundo ri de meu penar sincero.
O sofrimento sempre traz consigo
travo, amargor, mas não me desespero.
Olhar sereno, meu caminho sigo,
a conduzir, nem sempre como quero
este viver de sonhos, que bendigo,
num mundo feito de sabor austero.
O mundo é falho. A humanidade, ingrata.
Tem a mulher caprichos bem diversos.
Até num riso, às vezes, nos maltrata.
Entre nós dois, Mamãe, o amor não finda.
Teu coração não cabe nestes versos.
Minha saudade é bem maior ainda...
Domingo. Noite calma. Um piston em surdina
me traz evocações. Na varanda ensombrada,
eu mergulho no tempo, e o quadro me fascina:
perdidos na distância, uns longes de alvorada.
Em tomo à mesa, ali, conversas de rotina,
logo após o jantar. Bate-papo e mais nada.
E eu retorno à varanda, o olhar na chuva fina
e o pensamento longe, alma enfim deslumbrada.
Daqui deste edifício, entre instantâneos vários,
suponho ver no mar, e com os mesmos ardis,
nos veleiros de outrora, os antigos corsários.
Recordo, neste ensejo, ilhado em São Luís,
meus Pais, irmãos, Madrinha, a Escola, meus canários...
Taperoá, de antanho, em cenas infantis.
.............................................
OUTONO
Quando a velhice chega, a vida perde a graça.
Vêm o tédio, o silêncio, o queixume, o abandono.
Sempre há de ser assim. Pelo tempo o homem passa,
na luta pela vida, a mergulhar no outono.
E (se não fosse Deus!) que dizer da carcaça
(sem alma) dos mortais, possíveis cães sem dono?
Materialista e ateu, o ancião se desengraça
de todos e de tudo, e, inda mais, perde o sono.
Como é bom ser cristão! A gente continua
a viver sempre bem, otimista, feliz,
sem queixumes, ao sol, sem pedradas na lua.
Sem Eva para Adão, que seria do mundo?
Da argila para a vida (a História no-lo diz),
houve o sopro divino, infinito, fecundo.
......................................................
MAMÃE
É quase noite, Não encontro abrigo.
O mundo ri de meu penar sincero.
O sofrimento sempre traz consigo
travo, amargor, mas não me desespero.
Olhar sereno, meu caminho sigo,
a conduzir, nem sempre como quero
este viver de sonhos, que bendigo,
num mundo feito de sabor austero.
O mundo é falho. A humanidade, ingrata.
Tem a mulher caprichos bem diversos.
Até num riso, às vezes, nos maltrata.
Entre nós dois, Mamãe, o amor não finda.
Teu coração não cabe nestes versos.
Minha saudade é bem maior ainda...
Nenhum comentário:
Postar um comentário