domingo, 13 de fevereiro de 2022

MILTON À LUZ DO FOGO - Gary Snyder

Tradução de Luci Collin
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Riacho Piute, agosto de 1955

"Oh, inferno, o que meus olhos
com desgosto veem?"
Trabalhando com um velho
Marreteiro de mina que sabe sentir
Veios e fendas

Nas veras entranhas da rocha, sabe
Detonar o granito, construir
Rodovias sinuosas que duram anos
Sob o açoite da neve, degelo, cascos de mula.
Pra que serve, Milton, esta história boba
Sobre nossos antepassados perdidos,
Comedores de frutas?

O índio, o garoto da serra elétrica
E seis mulas em fila
Desceram até o acampamento
Loucos por tomates e maçãs verdes.
Dormindo nas mantas das selas
Sob um céu noturno iluminado
0 Rio Han de través pela manhã.
Gaios grasnam
O café ferve.

Em dez mil anos as Sierras
Estarão secas e exaustas, morada de escorpiões.
Lajes escavadas pelo gelo e árvores recurvas.
Nenhum paraíso, nenhuma queda,
Só a terra desgastada
O céu em rotação,
O homem, com seu Satã
Esquadrinhando o caos da mente.
Oh, Inferno!

O fogo morrendo
Escuro demais para ler, a milhas duma Estrada
Ressoa no pasto o cincerro de égua madrinha
Que carregou esterco pra aplanar o terreno
Avançando com dificuldade pelas pedras soltas
Numa velha trilha
Tudo de um dia de verão.

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